sexta-feira, 1 de abril de 2016

Bicho Preto Esquentado (Cabeça Quente)


Esta é sem dúvida alguma, uma mosca que nunca pode faltar na caixa de qualquer pescador que intente fisgar peixes insetívoros, é uma unanimidade entre os mosqueiros que o famoso bicho preto é um padrão dos mais versáteis e eficazes em diversas situações de pesca. Aliado a uma relativa facilidade de montagem, não é de se espantar que ela seja usada em várias pescarias com sucesso garantido e satisfação plena. 

Há quem defenda que o bicho preto não é propriamente uma mosca (padrão), no sentido em que não há uma receita de fato e que na verdade trata-se de uma generalização, em outras palavras, qualquer mosca que se assemelhe a ela e que em sua montagem seja empregado material de cor preta, poderia ser chamada de bicho preto. Por conta disso, quero deixar claro que não existe consenso quanto à receita original (se é que ela existe), nem sobre os materiais empregados, proporções, etc. O que apresento aqui, apesar de não ser nada original, é apenas uma leitura (dentre as diversas possíveis) dessa excelente mosca.

Bichos Pretos "Esquentados" e de Cabeça Branca

Apesar da silhueta e aspecto geral ser bem próximo a de uma woolly bugger (muitos a consideram uma de suas variantes), alguns detalhes diferenciam esses dois excelentes padrões: o bicho preto não é montado com um hackle que envolva todo o corpo (desde a cauda até a cabeça), a pena usada para o colar apresenta maior maciez e se aproxima muito mais de um colar de wet (soft hackle), o anzol utilizado via de regra tem a haste mais curta e quase sempre é montada com um beadhead (não vi ainda nenhuma montagem sem beadhead). Essas diferenças, lhe conferem além de características de streamers e ninfas (herdadas da woolly bugger), também alguns aspectos de wets. É realmente uma mosca surpreendente, apesar de simples.

A intenção é imitar uma ninfa de donzelinha (damselfly), mas esse é um padrão que pode, dependendo da situação (águas turvas, correntezas, trabalho mais ou menos veloz, adição de perninhas de borracha, brilho, etc) representar também outros insetos como stoneflies, mayflies, pequenos peixes, girinos, enfim outros seres vivos que sirvam de alimento aos peixes que se planeja capturar.


Ninfa de damselfly (donzelinha) 

A versão proposta aqui, ainda apresenta um diferencial, não encontrado nos insetos que intenta representar, mas que comprovadamente estimula os peixes ao ataque e que é utilizado em outras diversas receitas de moscas, o beadhead laranja quente (hot orange). O batismo dessa variante, bicho preto "esquentado" tem origem na adição do beadhead. Vamos à morsa!

Material Básico:
  • Anzol para ninfas #14 - #10 (2x heavy, 1x long), nessa montagem, Partridge Stronghold Nymph #14
  • Fio de atado Veevus 10/0, preto
  • Bead Head de latão, laranja quente (hot orange)
  • Fio de chumbo 0.20
  • Tinsel oval pequeno, dourado
  • Pena de marabou, preta
  • Pena das costas da galinha, preta


Passo a Passo:

1º Pegue um anzol, amasse a farpa, coloque nele o beadhead pelo furo menor e prenda-o na morsa.


2º Enrole na haste do anzol o fio de chumbo, dando de 10 a 12 voltas. Corte as pontas e empurre a "mola" formada para que se encaixe no furo mais largo do beadhead.



3º Aplique o fio de atado por cima do chumbo e sobre o restante da parte reta da haste do anzol. Logo após o enrolado de chumbo, faça um pequeno cone com o thread para suavizar o afinamento do corpo da mosca.



4º Pegue uma pena de marabou, estique as fibras pra trás e segure com os dedos. Fixe a pena logo após o cone de fio de atado, na parte de cima da haste, formando uma cauda com comprimento igual ao do anzol.



5º Prenda um pedaço de tinsel na lateral da base da cauda, aplique algumas voltas do fio de atado e adiante-o até posicioná-lo atrás do beadhead.



6º Torça a pena de marabou para que forme uma "meada" com as cerdas e enrole-a sobre a haste do anzol até o beadhead, fixe com algumas voltas do fio de atado, puxe o excedente da pena para trás, aplique mais algumas voltas do thread e corte o excesso da pena.



7º Enrole o tinsel de forma espaçada sobre o corpo da mosca para formar a segmentação e reforçar a amarração do corpo. O tinsel deverá ser enrolado no sentido contrário da pena de marabou. Prenda-o com o fio de atado, logo atrás do beadhead e corte o excesso.



8º Separe uma pena das costas de uma galinha, retirando as plumas inferiores mais macias. Escolha uma pena que possua cerdas com comprimento de 1,5 a 2 vezes o gap do anzol.



9º Fixe a pena na parte superior do corpo da mosca, logo atrás do beadhead, com a face brillhosa voltada para baixo.



10º Com o auxílio de um hackle pliers, aplique de duas a três voltas sobre o corpo da mosca, formando um colar em seu entorno. Fixe o hackle com o fio de atado e faça o nó de acabamento, corte o excesso da pena e aplique uma gota de cola pra fixar.



Variantes:

As variações podem ser as mais diversas possíveis, desde a troca completa das cores, como por exemplo o oliva (bicho verde), até as que somente alteram pequenos detalhes como por exemplo usar um beadhead branco e um tinsel prateado. Sempre levando-se em conta que o intuito é imitar uma espécie de donzelinha que viva na região onde se vai pescar, podendo acrescentar algum detalhe mais chamativo, como o beadhead laranja que funciona como gatilho pro ataque.

Como trabalhar a isca:

A maneira mais produtiva de se usar essa mosca é arremessá-la rio acima e trabalhar como uma ninfa até que ela passe por você, a partir daí pode-se trabalhá-la como uma mosca molhada (wet) deixando que derive e faça um longo swing, quando então pode ser tracionada como um streamer rio acima em recolhimentos mais longos, mais curtos ou alternado-se a velocidade e o tanto de linha que se recolhe.   


O irresistível bicho preto esquentado mostrando sua eficácia

Grande Abraço

2 comentários:

  1. André, você demora a postar uma novidade - mas quando ela vem, é uma preciosidade!
    Muito boa esta postagem. Eu queria muito a receitinha do Bicho Preto, tinha-a incompleta e aqui encontro-a turbinada.
    Um baita abraço e líneas arriba!

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  2. Obrigado pelas generosas palavras mestre João,

    Vontade de publicar não falta, mas o tempo tem me escapado.

    Grandr Abraço

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