sábado, 23 de maio de 2020

Micro Atado em Perspectiva

Algumas notas e observações sobre o desafiante labor de atar moscas em anzóis de numerações diminutas. 



O ofício milenar de se fixar diferentes materiais a um anzol através de um fio, na tentativa de reproduzir uma isca que se assemelhe ao alimento do peixe (em outras palavras: atar moscas), de longe é uma tarefa fácil, dadas as inúmeras características que se deseja que as moscas possuam (proporcionalidade, equilíbrio, harmonia, etc.). O pretenso atador, deve ainda possuir habilidades e saberes essenciais caso deseje se aventurar nessa fascinante atividade: criatividade, disciplina, controle motor, etc., que podem nascer junto com o indivíduo, ou serem desenvolvidas através de treino e conhecimento.

Assim, aplicando esses conceitos e procedimentos, com um pouco de dedicação consegue-se um resultado que agrade aos olhos tanto do pescador, quanto do peixe.

HO Candy Double X (3,5 cm)

Muitas das dificuldades estão associadas à fragilidade dos materiais (principalmente os naturais) e pelo tamanho das moscas, já que via de regra, o alimento do peixe são pequenos seres. A tensão aplicada a certos materiais como penas e pelos pode ser maior que a suportada e exceder o ponto de ruptura, fazendo com que o atador tenha que retroceder etapas (por vezes até recomeçar). Detalhes de moscas mais realistas como pernas e antenas, tornam o processo ainda mais delicado exigindo maestria e técnica.

Yellow Micro Gold Head (comparada a um grão de arroz)

Agora imagine o quão desafiador é garantir que a mosca atada tenhas essas mesmas características (proporcionalidade, equilíbrio, harmonia, etc.), quando o espaço que o atador tem disponível para a fixação dos materiais é drasticamente reduzido e a área de trabalho é um anzol com comprimento de haste menor que 5 mm. A dificuldade de medição, posicionamento e amarração dos materiais empregados na receita, é aumentada de forma exponencial. 

O micro atado ou o atado de micro moscas é uma prova de fogo para qualquer atador testar sua perícia, pois devido ao minúsculo tamanho da mosca, tudo se torna muito mais difícil, as ferramentas tem de ser mais precisas, as quantidades de material cuidadosamente dosadas, e inúmeros outros detalhes precisam ser levados em consideração.

CDC Caddis (6 mm)

A primeira dificuldade que o atador irá enfrentar é conseguir achar anzóis em numeração micro (#20 à #32), os poucos fornecedores de anzóis para atado de moscas do mercado brasileiro, não costumam ter em estoque numeração tão pequena, o que é compreensível em um país cujas espécies mais cobiçadas são o tucunaré, o dourado e o robalo. Mas com perseverança e um pouco de paciência, consegue-se reunir uma coleção de anzóis que servirão bem ao desafio de atar micro moscas.

Anzóis TMC 100 #24 e #28, 112Y #23, 2487BL #24 e 518 #32

Passado esse primeiro contratempo, de imediato aparece o segundo entrave: fixar um anzol tão pequeno de maneira correta. A grande maioria das morsas não são concebidas para anzóis de numeração tão baixa, via de regra, suas pinças são projetadas para as numerações mais comuns (de  #18 à #3/0). Os micros anzóis são feitos com arames de bitolas bastante finas, exigindo pinças perfeitamente alinhadas e que possuam pressão suficiente para acomodar esse anzóis de forma delicada e firme.

Felizmente, possuo uma G-Tech modelo Classic, que prende com facilidade anzóis dessa minimidade. Seu sistema de fixação aliado ao mecanismo de ajuste fino, permite ajustar a pinça de tal forma que essa se ajuste a um anzol número 4/0, mas também a um minúsculo número 32.

Anzol TMC 112Y #23 perfeitamente fixado na morsa G-Tech

Vencida a etapa da fixação do anzol, poderemos então avançar de fato ao atado, contudo há de se ter em mente que a manipulação das ínfimas quantidades dos materiais que serão usados para a confecção das micro moscas com as mãos nuas, é tarefa para poucos. Até mesmo para enxergar com clareza o material que se está manejando é terrivelmente difícil no atado de moscas tão pequenas. Qualquer corrente de ar, por mais branda que seja, poderá mover de lugar o material que havia sido separado e muito provavelmente o atador nunca mais conseguirá encontrá-lo novamente. 

Nesse sentido, o uso de algumas ferramentas são mais que fundamentais para que não seja tão penosa a tarefa de ver, separar e fixar o material no anzol. Considero que pelo menos 3 ferramentas sejam essenciais para auxiliar o atador na montagem: 

  • Lente de Aumento (uso uma Lupa de Pala)
  • Pinça de Precisão
  • Tesoura de Ponta Micro Fina

Além dessas três, um bodkin com ponta bem fina é de enorme ajuda, pois a quantidade de cola ou head cement que se vai aplicar é minúscula e a precisão necessária para aplicar essa gotícula é de sobremaneira facilitada com o uso deste.

Ferramentas de precisão são fundamentais

Por conta das dimensões dos micro atados, a máxima “menos é mais” não poderia aplicar-se mais adequadamente. Se 10 a 12 fibras de pena de galo são ideais para uma cauda de mosca seca atada em anzol #14, metade dessa quantidade pode ainda parecer muito para uma micro mosca atada em anzol #28. Dimensionar adequadamente as quantidades de material para anzóis menores é um pré-requisito para que ao final do atado não se tenha produzido uma mosca sem equilíbrio ou proporção. O primeiro item, que consta praticamente de todas as receitas de moscas, e que se deve escolher com cuidado é o fio de atado. Um fio de atado, por mais fino que se possa imaginar, pode se transformar em um cabo, se não estiver compatível com o tamanho do anzol. 

Fios de atado 30 Denier (~1/0) e 14/0 (70 Denier) da Veevus

Um fio 14/0 (70 Denier) é uma ótima opção, fino o bastante para permitir um número de voltas adequado sem que haja um “engrossamento” indesejável. A escolha do fio deverá levar em conta que à medida que se diminui a seção, a tendência é que a resistência também diminua, o que pode tornar o atado aborrecido devido às eventuais repetidas rupturas do thread. Alguns fabricantes como a Veevus, contornaram essa situação e conseguiram produzir um fio fino e forte, excelente para esse tipo de atado.

Veevus G02, a melhor escolha

Apesar de só estar disponível na cor branca (o que é facilmente contornável com o uso de um marcador permanente), o fio G02 da Veevus é sem dúvidas a melhor opção do mercado. Extremamente fino e surpreendentemente forte, proporciona uma fixação “limpa” do material, sem que o volume seja aumentado, caso necessite-se por quaisquer motivo, aplicar algumas voltas adicionais do fio de atado (prática que deve ser evitada a todo custo). 

É um fio tão fino que exige do atador certo cuidado ao aplicar tensão na bobineira para que o material que se deseja fixar não seja seccionado. Um outro aspecto bastante peculiar desse fio é sua tendência a “fugir” do controle enquanto tenta-se atravessá-lo pelo tubinho da bobineira, o que se resolve de forma simples e prática através da utilização de um bobbin threader.

Além do fio de atado, o lastro, um outro “ingrediente” bastante comum nas “receitas” de moscas (principalmente nas de ninfas), dever-a ser adequado às finas bitolas dos arames dos micro anzóis.

Detalhe dos tamanhos dos gaps e das bitolas dos arames

Um fio de chumbo por mais fino que seja, quando enrolado em volta da haste de um micro anzol, produzirá um subcorpo bastante volumoso. Por conta disso, uma boa prática é utilizar o fio de lastro na menor bitola possível, ou então optar por uma solução ainda mais adequada para essa e outras inúmeras situações de atado que é a folha de chumbo, normalmente esse material é vendido em formato de pedaços finos de chumbo adesivados, facilitando a fixação ao anzol e produzindo um subcorpo delgado.

Os lastros também precisam ser mais finos

E apesar de não alcançarem as numerações mais baixas, os micro bead heads de 1/16” (aproximadamente 1,5 mm) também se prestam muito bem para adicionar mais peso às micro ninfas. Há de se tomar um certo cuidado no momento da colocação desses micro bead heads e checar sempre se estão bem dimensionados, forçando-os um pouco contra o olho do anzol, pois alguns modelos possuem o olhal menor que pode não ancorar a contento o bead head ou deixar esse parcialmente coberto. Nessa situações uma boa base de linha de atado e uma gotícula de cola ajudam de sobremaneira na fixação do micro bead head.

Zebra Nymph atadas em TMC 200R #22

Em atados tão pequenos, receitas mais sofisticadas são quase inviáveis, e via de regra as moscas são simples com poucos elementos. Ainda que sejam simples, não é tão trivial distribuir as ínfimas quantidades de material sobre a haste do anzol e conseguir um resultado final que apresente de modo satisfatório, aquelas mesmas características essenciais (proporcionalidade, equilíbrio, harmonia, etc.).

Porém, com algum treino, paciência e técnicas adequadas, pode-se atar desde ninfas, wets e até moscas secas consideradas já de difícil execução em numerações normais, também em tamanhos minúsculos. A recomendação básica é a de se dosar cuidadosamente a quantidade de material que será aplicado, pode parecer estranho à primeira vista, mas nesses micro atados, muitas vezes a quantidade de material empregada na mosca é menor do que sobra em um atado comum. Se você usa uma lixeirinha pra guardar os restos dos atados, tenha certeza que dali sairá material para dezenas de micro moscas. Montagem de micro mosca seca em anzol #28:

Ainda que o fio de atado seja fino, aplique poucas voltas

Algumas fibras são suficientes pra fazer a cauda

Use um marcador permanente para colorir o  fio de atado

Uma pequena pena de CDC produz um excelente micro poste

Finalização com uma quantidade ínfima de dubbing

Um outro ponto muito importante no micro atado é a finalização da mosca. Assim como quando estamos fixando algum material na haste do anzol, temos o hábito de aplicar mais voltas com o fio de atado que o necessário, na finalização (via de regra) também exageramos tanto no número de voltas, quanto na quantidade de nós e de cola aplicada. 

Pode não parecer que isso faça diferença para um atado em anzol #14, mas para uma micro mosca, esse exagero pode ser catastrófico e transformar um trabalho delicado de montagem em uma mosca grotesca e desequilibrada. Portanto, todo cuidado é pouco na hora de finalizar a montagem da mosca, esse é o momento em que deve-se ser mais econômico e preciso.

Spinner atado em anzol TMC 518 #32

Eventualmente pode ser necessário a adoção de um acabamento incomum, por conta das dificuldades de espaçamento e de manobras convencionais. 

O spinner mostrado abaixo, foi atado em um anzol modelo TMC 518 #32, a haste deste anzol tem pouco mais que 2 mm de comprimento, se fosse adotado o padrão de acabamento com nó de finalização na frente da asa, próximo ao olho do anzol, não sobraria espaço suficiente para a montagem do abdômen da mosca. Para resolver essa questão, o nó de finalização foi aplicado atrás da asa da mosca, o que permitiu a montagem do abdômen e de um tórax que se constituiu basicamente da ancoragem da asa e do nó de acabamento.

Finalização com nó atrás da asa

As montagens mais difíceis nessas dimensões são aquelas receitas que apresentam colares de fibras de penas (hackle). Além da já conhecida dificuldade natural de se encontrar penas que tenham fibras com comprimento adequado, o tamanho dessas penas é tão pequeno que mesmo com o auxílio de um hackle pliers, enrola-lá em torno da haste do anzol é uma tarefa muito delicada.

Wet fly - fio de cobre e pena adequadamente dimensionados

É claro que esta dificuldade com o hackle será maior no casos de colares funcionais (que estão presentes nas moscas com o objetivo de ajudar na flutuação ou transmitir movimento), usados em moscas secas e em wets, no exemplo abaixo, o colar feito de fibra de pena de pavão é apenas um detalhe além do material sintético que forma todo o corpo da ninfa.

Midge atada em anzol TMC 200R #20

Os padrões que apresentam mais detalhes em sua montagem, tendem a ser mais trabalhosos e desafiadores. Fazer uma segmentação em um abdômen de míseros 3 mm com um tinsel cuja largura está na casa dos décimos de milímetros exige mais que precisão e paciência, é preciso uma visão muito nítida para que os segmento sejam regulares e uniformes.

Ninfa com segmentação de abdômen em TMC 2487 BL #24

Ninfa com segmentação de abdômen em TMC 2487 BL #24

Asas nessa escala são outra ousadia, dimensioná-las e posicioná-las pode levar mais tempo que atar todo o restante da mosca. A depender da flexibilidade e da fragilidade do material, o posicionamento e a fixação das asas pode ter que ser repetido exaustivamente até se obter êxito. A dica para suavizar esse desafeto é aplicar uma pequena quantidade de head cement no local, antes de posicioná-las.

Micro Spinner previamente amarrado ao tippet

Por fim, uma dica não relacionada à montagem da mosca, mas sim ao seu uso. Especialmente para pessoas com dificuldades de visão, mas também para aqueles que não querem perder tempo na hora da pescaria, é bastante recomendável que as micro moscas sejam previamente amarradas a pequenos pedaços de tippets e esses sim sejam atados ao líder na hora de serem usados. 

Mesmo sendo um desafio atar micro moscas, o retorno é duplamente recompensador. Primeiro porque a precisão e controle adquiridos no treinamento desses micro atados torna a montagem de moscas de tamanho comum bem mais fácil, e segundo porque o prazer em fisgar um pequeno predador, com uma mosca minuciosamente atada é inversamente proporcional ao seu tamanho.

Pequeno lambari capturado em uma micro emerger

Grande Abraço

domingo, 3 de maio de 2020

Send In The Clowns - Clown Shoe Caddis Variant

Na pesca com mosca, assim como em outras modalidades, podemos identificar alguns grupos bem típicos de pescadores. Há aqueles que preferem fisgar um belíssimo troféu com medidas e peso bem acima da média, há também os que utilizam técnicas e moscas escolhidas a dedo para um substancial aumento no número de capturas, mas particularmente acho que nada supera a plasticidade de um peixe atacando aquela mosca que você atou cuidadosamente na superfície da água, é emocionante ao ponto de devolver-nos a felicidade e de nos restituir a alegria.

Por outro lado, não há nada mais frustrante e entristecedor do que após diversas tentativas lançar ao peixe diferentes moscas, utilizar várias técnicas de arremesso e trocar algumas vezes de tática na montagem e apresentação, não obter nenhuma resposta dos peixes. Também é muito desanimador após dias de planejamento que antecedem a pescaria, envolvendo a escolha das moscas, a separação do material, estudo do local onde se vai pescar, atestar que algum detalhe da minuciosa preparação não funcionou como deveria.


Clown Shoe Caddis pronta pra entrar em ação


Um exemplo bem representativo é o do mestre Jay Zimermman, desapontado por não conseguir escolher um padrão que funcionasse a contento em uma montagem dropper rig com ninfas pesadas, desta inépcia surgiu a Clown Shoe Caddis. O padrão criado por Jay apresenta desejáveis características para esse propósito: um excelente poder de flutuação, pouca derivação lateral devido ao longo abdômen curvado e um dos mais almejados atributos para qualquer mosca seca: uma ótima visibilidade. 

A mosca apresentada a seguir em passo a passo é uma variante, na verdade uma variante de outra variante. Faz algum tempo, vi um padrão que lembrava muito a Clown Shoe Caddis, modificada pelo atador Jeff Creamer (Bobcat Hollow) para a pesca de Bluegill. O que me chamou a atenção nessa variante foi a pequena cauda vermelha (hot spot) e que o poste da receita original da Clown Shoe Caddis, feito com McFly Foam, também fora substituído e em seu lugar foi colocada uma tira de EVA laranja. Como o intuito de Jeff era o de criar um padrão que flutuasse ainda mais, o vinil do abdômen também foi substituído por uma fina tira de EVA, não há dubbing no tórax e o hackle ao invés de ser feito com pena de galo, foi trocado por CDC.

Na variante que fiz, mantive o abdômen de vinil, pois acho que facilita  a fisgada manter boa parte do anzol abaixo da linha d'água, influenciado por minha recente adesão aos hot spots, também o conservei. Outra coisa que mantive foi o hackle de pena de galo, pois além de não perder a flutuabilidade, fica mais visível que o CDC. Como de costume, deixo essas experimentações pra aqueles tristes momentos nos quais o peixe não dá sinal de vida, foi o caso com esse padrão que se mostrou bastante produtivo. 

Então, assim como as inesperadas situações de picadeiro, quando os palhaços entram em cena para trazer de volta a alegria, amarre uma Clown Shoe Caddis no tippet e seja feliz. Quase que dá pra ouvir em pleno rio o insubstituível Frank Sinatra cantando:

"There's no bite,
No rising there,
I tried so many flies,
And they don't care.
So, where are the clowns?
Send in the clowns."

Vamos à montagem da mosca. Como pré-montagem corte algumas tiras de EVA de 3mm a 4mm de largura.



Corte uma tira do EVA com 3mm a 4mm de largura 


Material Básico:



  • Anzol Tiemco 2499 SP-BL #10
  • Fio de Atado UTC 70 Light Olive
  • Vinil Rib Magic Glass Olive
  • Fibra Steve Farrar's Flash Blend Red
  • Dubbing Super Fine Preto
  • Elk Hair Natural
  • Pena de Galo (Hackle) Grizzly
  • Eva 2mm Laranja

Passo a Passo:

1º Coloque um anzol na morsa e faça uma base enrolando o fio de atado por toda a haste até a curva. 


2º Separe um tufo de fibras vermelhas, posicione-a ao final da base de thread feita no passo anterior para formar uma pequena cauda. Fixe as fibras, enrolando o fio de atado em direção ao olho do anzol. 


3º No mesmo ponto do passo anterior, posicione o vinil rib na lateral da haste do anzol e prenda-o com o thread até onde está fixado o tufo de fibras. Volte com o fio de atado para frente e pare no mesmo lugar que iniciou a amarração do vinil rib.  


4º Enrole o vinil rib em torno do anzol, tomando o cuidado para que cada nova volta toque a volta anterior, sem deixar espaços. Repita o processo até cobrir aproximadamente 60% da haste do anzol. Nesse ponto, fixe o vinil rib com algumas voltas bem tensionadas do thread e corte o excedente.


5º Separe um tufo de Elk Hair, retire o sub-pêlo e alinhe as pontas. Prenda o tufo no ponto onde terminou de fixar o vinil rib, as fibras devem ser compridas o suficiente para ficarem com as pontas alinhadas à cauda (ou ligeiramente mais longas).


6º Na base da asa, prenda a tira de EVA enrolando o fio de atado bem tensionado, distribua as voltas do thread formando um pequeno cone.  


7º Retire algumas fibras da pena de galo expondo a raque, amarre-a no cone de fio de atado com mais algumas voltas do thread. 


8º Separe um reduzido punhado de dubbing, enrole-o no fio de atado e cubra o cone, tomando cuidado para manter o formato cônico. Avance com o fio de atado até bem próximo do olho do anzol.


9º Enrole a pena de galo sobre o cone de dubbing, as voltas deverão ser bem próximas umas das outras para que o colar seja denso. Finalize a amarração da pena de galo com o fio de atado e corte o excesso. 


10º Dobre a tira de EVA sobre o hackle sem apertar as fibras da pena. Amarre a alça formada com o fio de atado, levante a ponta do EVA e aplique mais duas ou três voltas do thread, termine com o nó de finalização da sua preferência, aplique uma gota de cola e corte o excesso do EVA deixando um pedaço suficiente para cobrir o olho do anzol, formando uma pequena cabeça.


Variantes:

Em se tratando de uma variante de uma variante, não há muito mais o que se dizer. A própria Clown Shoe Caddis original pode ser modificada simplesmente alternando-se a montagem do hackle, fixado-o como o de uma parachute, na horizontal. Eventualmente nesta versão, as fibras da parte de baixo do colar de penas podem ser aparadas, como na foto seguinte.


Fibras da parte de baixo do hackle aparadas

Como trabalhar a isca:

Essa mosca deve ser trabalhada como uma klinkhamer, pois assim como esta, boa parte do corpo fica submerso. É dispensável o uso de flotante, pois apresenta excelente flutuabilidade, podendo ser utilizada perfeitamente em montagem dropper rig, mesmo com ninfas pesadas. Arremesse-a com suavidade rio acima e deixe-a derivar na velocidade da correnteza.

Grande Abraço

sábado, 11 de abril de 2020

Stonefly em Foco

Desde o meu primeiro contato com a pesca com mosca, aflorou em mim uma convicta predileção por moscas clássicas e padrões realistas, aquelas que representam com fidelidade os alimentos naturais dos peixes. Aliado à admiração pela habilidade dos mestres atadores e pela arte que esses produzem, até desacreditei de algumas receitas de moscas pelo simples fato de não se parecerem nem de perto com a dieta habitual dos peixes, portanto nunca fui muito fã de moscas impressionistas.

Hot Spot Stone

Há algum tempo atrás, navegando por um site especializado em atados, li uma publicação que apresentava um padrão generalista de uma stonefly, criada pelo atador russo Pavel Varchencko. Essa receita, além dos materiais e  elementos comumente encontrados em padrões impressionistas, também apresentava uma particularidade que ao mesmo tempo em que me despertou interesse, também evocou minha descrença, a mosca possuía um hotspot (um ponto de foco). Esse é um recurso não raro utilizado em diversas receitas de atado, até mesmo em moscas clássicas. Analisando algumas receitas consagradas com um pouco mais de cuidado, podemos concluir sem muito esforço que na verdade os hot spots estão mais presentes do que pensamos.

Via de regra, um hot spot é um pequeno detalhe (normalmente chamativo como cores berrantes ou fluorescentes) adicionado a uma mosca atada apenas com cores naturais. Esses pontos de destaque são adicionados para despertar a curiosidade e o interesse dos peixes, atraindo sua atenção (muitas vezes a grandes distâncias) e motivando-os a inspecionar se o que estão vendo é potencialmente comestível e atacável. Os hot spots não produzem novos padrões de atado, apenas adicionam um ponto chamativo a moscas conhecidas gerando uma variante, com a intenção de provocar reações nos peixes que não estejam se alimentando ativamente e/ou disparar o gatilho de ataque, principalmente naquelas situações em que há muito alimento flutuando na água. Abaixo alguns exemplos de moscas com hot spots:

Bicho Preto Esquentado (Hot Orange Bead Head Bug)

Hot Spot Buzzer 

The Huevo Frito (Trout Alevin)


Em uma recente jornada de pesca, depois de uma tarde inteira de poucas ações, resolvi experimentar um padrão totalmente diferente das moscas de minha caixa, uma stonefly impressionista, com pernas de borracha e com o que mais me deixava descrente, uma faixa laranja fluorescente logo atrás do tórax fazendo a transição para um abdômen na cor preta. Peguei a mosca, olhava pra ela céptico e desdenhoso, mas como não havia muito a perder, amarrei-a ao tippet e a lancei, primeiramente ainda com muito desabono, a montante em uma corredeira relativamente leve. Após a segunda recolhida de linha intencionando mantê-la esticada, um ataque e uma truta. Feliz, mas ainda um pouco hesitante, lancei-a novamente mais acima onde a turbulência era menor e a água estava mais calma. Três recolhidas depois, outro ataque e outra truta. Segui durante um bom tempo experimentando a mosca em diferentes locais, incluindo alguns com fluxo bastante tranquilo e as capturas continuaram.

Coincidência ou não, mudei minha maneira de pensar e de agora em diante, terei sempre moscas impressionistas na minha caixa (e é claro, algumas com hot spots). Segue abaixo o passo a passo do padrão que usei nesta pescaria.


Material Básico:




  • Anzol Tiemco 200R #10
  • Bead Head Dazzle Brass black 1/8" ou 3,2mm
  • Fio de atado Veevus 8/0 white
  • Fio de silicone 0,7mm transparente
  • Dubbing Partridge SLF Dark Claret 
  • Striped Rubber Legs black/orange
  • Marcador permanete preto e laranja

Passo a Passo:

1º Coloque o bead head no anzol já com a farpa amassada e prenda-o na morsa.


2º Faça uma alça com o fio de silicone (uma das pontas deverá ser menor, passando pouco do comprimento do anzol, a outra deverá ser grande o suficiente para ser enrolada por toda a haste). Amarre as duas pontas no anzol com o fio de atado, tomando o cuidado de mantê-las alinhadas às laterais da haste.


3º Enrole o fio de atado por toda a haste (desde a altura da farpa até o bead head) mantendo-o tensionado, cubra totalmente as duas pontas do fio de silicone. Finalize próximo ao bead head, corte o excedente da ponta menor na parte de trás, e as duas pontas da pequena alça que se formou na frente. 


4º Com próprio thread, modele o corpo da mosca, mantendo o abdômen mais fino na parte de trás, aumentando o volume na medida em que avança na direção da parte da frente. Faça um volume maior na altura do tórax (aproximadamente no final do primeiro terço do comprimento da haste). 


5º Pinte a parte mais volumosa (tórax) com o marcador permanente laranja. A parte da frente e a de trás devem ser totalmente cobertas com o marcador permanente preto. 


6º Espere a tinta secar e enrole a outra ponta do fio de silicone sobre o corpo da mosca até o bead head. Fixe com o thread, dê um nó e corte o excedente do fio de silicone.


7º Repita a operação com os marcadores permanentes por sobre o fio de silicone enrolado, tomando cuidado para manter os mesmos segmentos coloridos anteriormente.


8º Espere secar novamente e prenda duas pernas de borracha entre o bead head e o trecho pintado de laranja (tórax). Passe o marcador permanente preto no fio de atado para um melhor acabamento. 


9º Posicione as rubber legs de forma que fiquem alinhadas às laterais do corpo da mosca, formando um X.


10º Aplique o dubbing no thread e enrole entre as pernas de borracha, formando um tórax mais proeminente.


11º Avance o fio de atado para a parte da frente das pernas dianteiras. Pinte o fio com marcador permanente laranja e finalize a mosca com o nó de acabamento da sua preferência.


12º Aplique uma gota de cola ou head cement para manter o nó firme, corte o excedente das pernas de borracha, mantendo as traseiras ligeiramente mais compridas que as dianteiras.


13º O tórax de dubbing poderá ser aparado com uma tesoura (concedendo uma aparência mais delgada) ou ser desgrenhado com um bodkin ou pedaço de velcro (para que pareça mais eriçado).



Variantes:

As variações possíveis são praticamente infinitas, podendo ser alterado desde o material do dubbing, do corpo da mosca, bem como as cores do hot spot, das pernas e do bead head. O importante é ter em mente que trata-se de uma imitação de inseto, por mais generalista que seja, portanto a silhueta, tamanho e cores predominantes devem ser representativas dos insetos onde pretende-se pescar.


Como trabalhar a isca:

A técnica aplicada para esse padrão é a mesma para qualquer ninfa, podendo-se pescar na modalidade swing usada com wets, upstream com ou sem strike indicator, dropper rig e todas as demais que se aplicam às ninfas. 

Grande Abraço