segunda-feira, 26 de outubro de 2015

The Kite

Em recente pesquisa por padrões parachute, buscando alguma variação promissora, me deparei com esta interessante história e depois de lê-la não pude me conter para atar algumas moscas e experimentá-las na prática. O texto mencionava uma reportagem da Freshwater Fishing Magazine de Novembro/Dezembro de 2009, na qual Mick Hall e Philip Bailey descreviam o surgimento de uma variante da famosa Kite's Imperial, um padrão consagrado do não menos famoso Oliver Kite e dizia basicamente o seguinte:

Oliver Kite, galês de nascimento, mudou-se para a Inglaterra na adolescência e após ter servido ao exército britânico, fixou residência em solo inglês. Coincidentemente, ou por um desses caprichos da natureza, passou a viver próximo a Frank Sawyer, se tornaram amigos e companheiros de pesca. A influência de Sawyer tanto no estilo de pesca quanto nas moscas usadas por Kite é notória para quem quer que leia seus escritos. E foi justamente a leitura de um dos livros de Kite - Nymph Fishing in Practice, que chamou a atenção e despertou o interesse de Philip Bailey sobre a famosa mosca Kite's Imperial.


The Kite, um excelente padrão de parachute

Oliver Kite era um minimalista e considerava que a apresentação era mais importante do que a cor ou o formato da mosca (fidelidade ao inseto real). Depois de ter publicado 6 receitas de moscas secas de sua autoria, com o tempo passou a acreditar que apenas uma, a Imperial, era capaz de produzir capturas não importando de qual inseto real os peixes estivessem se alimentando. Um outro aspecto que se tornou marca registrada de suas moscas era o padrão anzol nú, uma quantidade significativamente reduzida de material sobre a haste do anzol, recoberta por algumas voltas de fio de cobre fino (tão fino e em tão pouca quantidade, que não comprometeria a flutuabilidade de uma mosca seca). Ele concentrava suas pescarias nos chalk streams (rios que nascem em montanhas de rocha calcárea) da Inglaterra, raramente se aventurando a locais mais distantes.


O padrão minimalista de Oliver Kite está bem representado no corpo esguio da Kite

Quando Philip Bailey mudou-se para a Inglaterra, influenciado por Oliver Kite, usava com frequência a Imperial em suas pescarias nos rios do norte do país. A performance da mosca era boa, mas não se comparava à produtividade das parachutes e spiders, pois os rios do norte da Inglaterra passavam por períodos de cheias e em alguns trechos isso produzia águas mais rápidas e fortes corredeiras, e nessa situação as Imperial afundavam. Bailey estava convencido de que o padrão de Kite era efetivo em muitas situações, inclusive em momentos que outras moscas falhavam, porém em águas mais rápidas o desempenho não era satisfatório. Isso o motivou a adaptar a Imperial para um padrão parachute, e foi assim que surgiu a Kite.

Não existe uma descrição muito clara dos passos necessários para o atado da Imperial, o que se sabe é que por conta da tendência nude hook, tudo era pensado para que o resultado final fosse uma mosca delgada. E apesar da descrição detalhada de montagem publicada por Philip Bailey, experimentei algumas maneiras diferentes de construção da Kite, a que descrevo abaixo foi a que produziu o melhor resultado, em minha opinião, levando-se em consideração os fundamentos de Oliver Kite. Fiz duas substituições na lista de materiais: a primeira foi o uso das fibras de pena de avestruz, no lugar das fibras de pena de Blue Heron (Garça Azul). A segunda foi a troca do fio de cobre por tinsel oval dourado, pois seguindo o objetivo de atar uma mosca que não afunde, achei por bem, mesmo o fio de cobre sendo muito fino, retirar qualquer peso adicional. Bom, vamos à montagem da Kite.


Material Básico:
  • Anzol Partridge Capitain Hamilton #12
  • Fio de Atado Veevus Cinza 10/0
  • Polyyarn Branco
  • Tinsel Oval Fino Dourado
  • Pena de Avestruz
  • Fio de Seda Roxo
  • Pena de Galo (Saddle) Marrom
  • Pena de Galo (Hackle) Marrom


Passo a Passo:

1º Coloque um anzol com a farpa amassada na morsa e faça uma pequena base de linha para ancorar o poste de polyyarn, comece a prender o fio de atado no ponto que representa 25% do comprimento da haste, a partir do olho do anzol. Dê umas 5 ou 6 voltas em direção à curva do anzol e retorne ao ponto inicial.


2º Selecione um tufo de polyyarn, dobre ao meio, envolvendo o fio de atado e prenda na parte de cima da haste com 2 ou três voltas do thread. 


Em seguida, puxe as duas metades do tufo para cima e aplique algumas voltas com o fio de atado para formar a base do poste. Pode-se aplicar uma gotícula de cola na base para fixá-lo em definitivo.


4º Logo atrás do poste, prenda o fio de seda roxo e leve a amarração até à curva do anzol.


5º Selecione de 10 a 12 fibras de uma pena das costas de galo e prenda no ponto onde o fio de atado está, bastam 2 a 3 voltas.


6º No mesmo ponto, fixe um pedaço de tinsel e em seguida adiante o fio de atado até a frente da base do poste. Faça uma alça com o thread e aplique mais duas ou três volta na haste.


7º Na frente do poste, fixe 2 fibras de pena de avestruz, voltadas para a parte de trás do anzol.


8º Enrole o fio de seda em volta da haste até alcançar o poste, continue enrolando na frente do poste, fixe-o com o fio de atado e corte o excesso.


9º Corte uma das pontas da alça do fio de atado, em sua volta torça as duas fibras da pena de avestruz, como se fosse uma corda.


10º  Enrole as fibras em direção à curva do anzol, até à base da cauda de forma espaçada.


11º Mantenha as fibras tensionadas e no sentido contrário, enrole o tinsel sobre as fibras da pena de avestruz, também de forma espaçada até à frente do poste. Prenda o tinsel com algumas voltas do fio de atado e corte o excesso.


12º Fixe a pena de galo na base do poste com algumas voltas do fio de atado, cuidando para que a parte brilhosa da pena fique voltada para baixo. Levante a pena segurando-a junto com o poste enquanto aplica algumas volta do fio de atado, enrolando o thread para cima, até atingir aproximadamente o tamanho de 1/4 do comprimento da haste. retorne com o fio até a base do poste, reforçando a amarração.


13º Enrole a pena em volta do poste, uma volta colada à outra, de cima para baixo, até atingir a base do poste. Puxe a pena para baixo, em ângulo reto com a haste do anzol e fixe-a com duas ou três voltas as do fio de atado.


14º Aplique o nó de acabamento em volta do poste, corte o excesso da pena, o fio de atado e pingue uma micro gota de cola pra finalizar.


15º Corte o excedente do poste para que tenha aproximadamente o mesmo tamanho da haste do anzol.


Como trabalhar a isca:

Assim como a maioria das moscas secas, a melhor maneira de trabalhar essa mosca é arremessá-la rio acima e acompanhar atentamente sua descida, com a linha quase esticada e esperar o ataque. Uma pequena quantidade de flotante pode ser aplicado na mosca para que fique impermeabilizada e melhore sua flutuação evitando o encharcamento dos materiais que a revestem.

Lembre de Não Esquecer:

Sempre tenha em mente que o objetivo final é produzir uma mosca com o corpo delgado, sem tórax aparente, mantendo o mesmo volume desde a cauda até a cabeça da mosca. Para tanto, use um fio de atado fino e economize no número de voltas para prender os materiais. Você irá se surpreender quando notar que é possível diminuir muito o número de voltas de fio de atado que normalmente usamos.

E pra quem acha que essa mosca não pega peixe, pois afinal da contas não existem insetos com essa coloração na natureza, está aí a prova.



Grande Abraço

domingo, 20 de setembro de 2015

Jazzer Buzzers

Eles estão presentes nos quatro cantos do mundo zunindo nos ouvidos dos habitantes de todos os continentes do planeta. São comumente chamados de moscas verdadeiras (true flies) pois a "mosca doméstica" pertence a esse grupo de insetos, facilmente identificados quando adultos, apresentam 2 pares de asas (que dão origem ao nome da ordem). Em contrapartida as larvas apresentam uma variação morfológica tão grande que não existem características que as diferenciem das larvas de outras ordens de insetos. Os dípteros tem ciclo de vida completo (ovo, larva, pupa e adulto), devido à grande quantidade de indivíduos, desde o estágio de larva até o adulto (incluindo o emergente) são uma importante fonte de proteína para muitas espécies de peixes (principalmente para alevinos, devido a seu tamanho diminuto) e juntamente com os tricópteros, ephemerópteros e plecópteros são as ordens de insetos mais relevantes para a pesca com mosca. 



Pertencem a uma das maiores ordens de insetos contando com mais de 150 mil espécies classificadas em cerca de 10 mil gêneros, de 188 famílias diferentes, dentre as quais pode-se destacar uma em especial, a Chironomidae. Com larga distribuição mundial podem ser encontrados desde o Himalaia a mais de 4.500 metros de altura, até profundidades de mais de 1.600 metros, são umas das poucas famílias de insetos que conseguem habitar o mar em sua zona bêntica, pode-se afirmar que o único habitat inexplorado por essa família é o mar aberto. Alguns gêneros são muito rústicos e resistentes podendo sobreviver a condições bastante adversas, por isso são importantes bioindicadores, em ambientes muito poluídos por matéria orgânica e com pouco oxigênio dissolvido, as larvas de Chironomidae podem ser os únicos macroorganismos a sobreviver. 


Os padrões que intentam imitar uma larva e/ou pupa de Chironomidae, popularmente conhecidos como Buzzers, começaram a se tornar populares por volta dos anos 20, acredita-se que seu sucesso se deu devido a serem moscas fáceis de se atar, poder serem usadas praticamente em qualquer lugar do mundo por conta da infinidade de espécies e porque eclodem o ano todo. Depois de ficarem famosos, aos poucos os padrões de wets se tornaram a preferência dos mosqueiros e a popularidade dos Buzzers diminuiu. Alguns anos depois, por volta da década de 60, com o surgimento de povoamentos e criações comerciais de peixes em águas paradas (lagos e reservatórios) surgiu uma nova onda de interesse nos Buzzers e a partir daí esses padrões se mantiveram populares até os dias de hoje. Os padrões mais modernos recebem acabamento em resina ou verniz o que além de conferir-lhes maior durabilidade, acrescenta beleza ao atado atraindo tanto peixe como pescador.


Dentre os estágios metamórficos da Chironomidae, o mais importante é o da pupa, pois é neste estágio que ficam mais expostas (muitas larvas se refugiam e poucas nadam livremente e o estágio emergente é bem rápido), logo o mais indicado é focar o atado no estágio de pupa que é o que mais provoca ataques. Existem centenas de receitas e padrões, abaixo alguns exemplos:


Suspender Buzzer

Quill Buzzer

Hot Spot Buzzer

Especial de Natal (Xmas Buzzer)

Um dos padrões mais antigos e simples, o Blagdon Buzzer, data da década de 20 (1920s) e existem indícios de que tenha sido o primeiro buzzer. Atribui-se a autoria dessa mosca ao Dr. Howard Alexander Bell. Acredita-se que o padrão tenha surgido em função das observações que o Dr. Bell fazia do conteúdo dos intestinos dos peixes capturados por ele no Lago Blagdon. Desde então, até os dias de hoje, é um padrão eficiente, amplamente usado por diversos mosqueiros. Sendo assim, vamos a seu passo a passo.


Material Básico:
  • Anzol Partridge Captain Hamiton Wet Fly #14
  • Fio de Atado Ultra Thread 140 Denier Black
  • UNI French Oval Tinsel Silver
  • Poly Yarn White

Passo a Passo:

1º Coloque um anzol com a farpa amassada na morsa e faça uma base de linha até a metade da curva.



2º Prenda o tinsel e com o fio de atado molde o corpo, que deverá ser delgado, porém apresentar certo volume (cerca de 3 a 4 vezes a espessura da haste).




3º Enrole o tinsel de forma espaçada em direção ao olho do anzol, fie com 2 voltas de fio de atado e corte o excesso.



4º Nesse ponto, prenda um tufo de Poly Yarn tomando cuidado para que fique exatamente sobre a haste.


5º Prenda o Poly Yarn, corte o excesso que estava para frente e como thread faça a cabeça da mosca, mais volumosa.


6º Arremate com o seu nó de acabamento preferido, aplique uma gotícula de cola e corte o excesso do Poly Yarn, cuidando para que não ultrapasse a metade do comprimento da haste. Aplique verniz na cabeça da mosca.



Como trabalhar a isca:

Em se tratando de imitações de larvas e pupas, principalmente em numeração pequena (menores que #16), as estratégias mais comuns de apresentação e pesca são: arremessar rio acima deixando que a mosca desça ao sabor da correnteza deriva morta (dead drift), podendo-se fazer uso ou não de um indicador de fisgada; arremessar a mosca e recuperá-la através de recolhimentos curtos, imprimindo à mosca curtos deslocamentos em "pulsos"; arremessar a mosca e recuperá-la lentamente podendo em algumas situações deixá-la simplesmente parada. As larvas de mosquitos são encontradas com mais frequência em águas calmas/paradas (lagos e poços), normalmente ficam flutuando abaixo da superfície e por vez ou outra se deslocam através violentos movimentos do corpo, para imitar esse movimento a melhor estratégia é dar puxões bem curtos, repetidos a intervalos de tempo mais longos, puxe, conte até 10 e repita esse ciclo variando a velocidade (para mais e pra menos).

Lembre de Não Esquecer:


Apesar de em sua grande maioria os peixes insetívoros apresentarem comportamento alimentar tipicamente oportunista, consumindo o que lhes é apresentado, em algumas situações específicas pode haver seletividade quanto ao tamanho e cor. Nesse cenário, uma pequena variação na numeração do anzol ou na tonalidade da mosca pode ser a diferença entre o sucesso ou o fracasso de uma pescaria, assim a coleta de alguns indivíduos que habitam o local pode ajudar de sobremaneira na escolha do padrão mais apropriado visando aumentar as chances de fisgadas.

Grande Abraço

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A Primeira Encomenda A Gente Nunca Esquece

Quando comecei na modalidade pesca com mosca, há 3 anos atrás, não poderia nem imaginar que hoje estaria atando moscas pros amigos e que receberia encomendas. Minhas primeiras Woolly Buggers eram tão ruins que ainda não consegui entender como fui capaz de criar aqueles "monstrengos". Desde então, estudei (e estudo) muito, treinei (e treino) bastante, cada dia é um novo aprendizado, e ainda há um imenso caminho a percorrer, isso torna o fly ainda mais cativante e motivante.

Além da divulgação aqui no blog, tenho participado também de grupos e fóruns e apesar de não ter tanta experiência assim, procuro sempre ajudar repassando o que aprendo, acredito que dessa forma o "caminho das pedras" será menos penoso pros mosqueiros iniciantes. Certo dia desses, o amigo Kauan Pitella (de Jaguarão - RS), entrou em contato comigo, dizendo que apesar de já ser pescador esportivo, estava iniciando na pesca com mosca, pensei se tratar de alguma dúvida e me pus à disposição para ajudá-lo no que fosse necessário. Mas para minha surpresa, o motivo do contato era uma encomenda de moscas, a minha primeira. Depois de trocarmos algumas mensagens pra acertarmos os detalhes e de um tempo na mesa de atado (caprichando tanto quanto eu podia), minha primeira encomenda estava seguindo (inesquecível).

O conjunto (de cima para baixo, da esquerda para a direita): 
Bubble Diver, 
Gafanhotos GO FLY
Vanilla Ice Bugger, Autumn Splendor, 
Caddis Pupa, Copper John, Hare's Ear, Spider, 
CDC Caddis, Blood Worm, 
Missionary Wet e Matuka

Passados alguns dias de tempo ruim, muita chuva e frio, sem condições de pesca, orgulhoso e muitíssimo satisfeito recebo essas fotos do amigo Kauan registrando capturas nas moscas que havia me encomendado.

Saicanga capturada com gafanhoto GO FLY 

A "dentuça" não resistiu 

É verdadeiramente um prazer saber que de alguma forma, pude contribuir para momentos de alegria dos amigos mosqueiros, mesmo à distância e pude "pescar junto" com ele. Como diria o Kauan: "Vamos dá-lhe"!

Grande Abraço

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Metrologia do Atado

Proporcionalidade, razão de afundamento, perfil hidrodinâmico, são apenas alguns aspectos que precisam ser observados durante a montagem de moscas, eles estão muito mais ligados às características funcionais da isca e pouco contribuem para sua estética e beleza, apesar de serem parte indissociável da nobre "Arte do Atado".

Essas propriedades extremamente cartesianas, ligadas à física (uma ciência exata), a princípio podem não ser claramente visíveis quando olhamos pela primeira vez pra uma mosca que nos "pesca" pelo colorido, formato ou semelhança com o ser vivo que tenta imitar. Porém, são atributos igualmente importantes, uma vez que podem estabelecer de forma determinante o modo como a isca nada, afunda, sua silhoueta, enfim a "vida" que tentamos imprimir à mosca. 


Catgut nymph

Obviamente, quando vamos a um restaurante e pedimos uma iguaria gastronômica, não há como deixar de lado a frase do célebre poeta: "A beleza é fundamental". O primeiro contato que temos é visual, e um belo prato, colorido, muito bem apresentado, nos seduz logo de cara. Mas se essa "pintura comestível", linda de se ver é insossa, sem textura, todo o trabalho para a criação da "obra prima" se esvai em segundos. Sem querer menosprezar o poeta, ainda prefiro a máxima: "mosca feia, pega peixe". 

A metrologia do atado aqui proposta, na verdade trata-se da adequação das medidas dos materiais que mais comumente utilizamos na montagem das moscas. Escolher o fio de chumbo de bitola correta pra um determinado tamanho de anzol, é relativamente fácil na grande maioria das vezes, tanto que existem tabelas com essas relações facilmente encontradas nos livros de atado de moscas, blogs, fóruns, etc. É claro que se quizermos "sobrecarregar" uma ninfa com peso extra, para que esta afunde mais rapidamente em uma situação específica, essas sugestões tabeladas não valem, mas via de regra, os valores apresentados são os mais praticados. Assim, reuni algumas das tabelas que mais utilizo em meus atados e as apresento aqui como uma referência prática de consulta.


A tabela que mais utilizo é sem dúvidas a de fio de atado (thread). As unidades mais usadas pra classificar os fios de atado são Aught, na qual os zeros representam as espessuras dos fios (quanto mais zeros, mais fino será o fio), assim um fio 00000 ou 6/0 é mais fino que um fio 000 ou 3/0; e a Denier um padrão baseado no peso em gramas de 9.000 metros de fio, neste sistema, números maiores indicam fios mais grossos, assim um fio 210 denier é mais grosso que um fio 140 denier.


Outra tabela que consulto muito é a de bead heads. Sempre fico na dúvida sobre que tamanho é mais adequado para o anzol que pretendo usar. Mais uma vez, devo lembrar que essa é apenas uma referência e que em situações nas quais se deseja imprimir um comportamento específico à mosca, esses valores podem ser alterados.


Da mesma forma, a tabela de fio de chumbo se aplica quando deseja-se adequar a espessura do fio à espessura do arame do anzol, visando um corpo de mosca mais harmônico. Dado que o lastro usado na mosca pode ser modificado aplicando-se mais ou menos voltas deste fio à haste do anzol, as relações de correspondência dessa tabela, objetivam mais propriamente a proporção das bitolas fio x haste.


Ainda referente ao lastro, a tabela de olhos de halteres de chumbo também serve apenas de referência para o tamanho do anzol. Dependendo da quantidade e do tipo de material que será atado à mosca, pesos maiores ou menores podem ser necessários para que a isca nade de forma equilibrada.


Outro elemento que está muito presente em uma grande quantidade de receitas de atado é o fio de cobre. Usado para revestir a haste, para reforçar a fixação de um material ou mesmo pra segmentar abdômens, essa tabela é uma mão na roda na hora de escolher qual fio usar em função do tamanho do anzol.


Usada em menor escala, mas igualmente necessária é a tabela de cone heads. Mais uma vez, aqui aplica-se apenas uma relação de tamanho do cone versus espessura do arame da haste, tanto para seu travamento no olho do anzol, quanto para o efeito esperado no atado.


Essa tabela tem a mesma função da anterior, apenas adequar o tamanho dos olhos de plástico/monofilamento ao tamanho do anzol.


O chenille é mais um elemento que faz parte de muitas receitas de atado. Na grande maioria das vezes, apenas revestindo a haste do anzol pra formar o corpo da mosca. As relações apresentadas nesta tabela tomam como premissa anzóis com abertura parão, focando pricipalmente a proporcionalidade entre espessura e comprimento.


Finalmente, ainda visando garantir a proporcionalidade dos corpos das moscas, a tabela de vinyl rib, elemento muito utilizado tanto pra ninfas, quanto pra streamers.

Espero que essas tabelas sirvam de referência e sugestão para muitos mosqueiros e que ajudem na montagem de moscas equilibradas, proporcionais e principalmente funcionais.

Grande Abraço

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Funky Humpy

Apesar da controvérsia que envolve a origem e os méritos de sua autoria, pois não se pode afirmar com exatidão quando e onde foi criada e nem se precisar quem é o inventor dessa mosca, credita-se seu surgimento à necessidade de adaptação dos antigos padrões britânicos (considerados demasiado frágeis por utilizarem penas em suas asas) às agitadas águas norte americanas.

Segundo a teoria de seu nascimento, sua primeira aparição se deu nos anos 20, registros de um jornal de pesca da costa leste americana descrevem com detalhes uma mosca que possuía um abdômen em forma de corcunda (hump), um padrão diferente para a época que chamou a atenção e despertou muito interesse. Um pouco mais tarde, por volta dos anos 30/40, indícios de montagens desse padrão por antigos atadores de diversas localidades no meio-oeste teriam despertado a atenção de um propretário de uma fly shop na Califórnia fazendo com que o padrão tivesse chegado de forma definitiva à costa oeste, atravessando o país e alcançando grande popularidade. A partir daí, seu sucesso foi tão grande que a humpy teria se transformado em um verdadeiro fenômeno nacional.


A humpy é uma mosca seca montada com uma generosa quantidade de pelos de Alce e Cervo (que formam respectivamente sua cauda, abdômen e asas) e um volumoso colar de penas de galo, que lhe conferem uma flutuabilidade surpreendente, muitas vezes dispensando o uso de flotante. Uma outra característica excelente é sua visibilidade, essa mosca permanece visível aos olhos do pescador tanto em águas agitadas como também nas últimas horas de luz do dia o que facilita enormemente a pesca no visual. Sua grande silhoueta na água indica aos predadores que ela é uma substancial quantidade de proteína e apesar de não imitar uma espécie de inseto em específico (podemos classificá-la como uma atractor), seu poder de atração desperta o sentido oportunista dos peixes e não a deixa passar ilesa sem provocar ataques. 


Material Básico:
  • Anzol Tiemco 100 #12
  • Fio de atado 8/0 - Oliva
  • Uni Floss - Oliva
  • Moose Hair - Preto
  • Elk Hair - Descolorado
  • Pena do pescoço do galo - Grizzly e Marrom



Passo a Passo:

1º Coloque na morsa um anzol com a farpa amassada e inicie uma base de fio de atado a partir da metade da haste, indo até o final de sua parte reta, retorne com o fio para o ponto de início.


2º Pegue um pequeno tufo de Pelo de Alce e depois de alinhá-lo, tome como medida o mesmo comprimento da haste do anzol.

3º Prenda as fibras de Moose Hair na parte de cima da haste do anzol cobrindo com o thread até o ponto inicial de amarração. 


4º Corte o excesso das fibras e arremate fazendo um pequeno cone. 


5º A partir desse ponto, posicione o floss na lateral da haste e enrole o fio de atado por cima até o final de sua parte reta. Retorne com o fio de atado ao ponto inicial.


6º Pegue um tufo de Pelo de Cervo e depois de alinhá-lo, tome como medida o comprimento da haste do anzol mais a cauda.


7º Passe o tufo para a outra mão e corte o excedente. Prenda as fibras com o auxílio do fio de atado. Nesse passo, cuide de puxar o tufo pra cima de tal forma que as fibras fiquem amarradas na parte de cima da hasteRetorne com o fio de atado para o ponto inicial.


8º Enrole o Floss para a frente, por cima das fibras presas à haste, finalize com algumas voltas de fio de atado e corte o excesso.


9º Dobre o Elk Hair por cima do Floss e prenda com algumas voltas do Thread.


10º Levante o tufo de fibras e faça algumas voltas com o fio de atado na frente bem próximas à base para que as fibras permaneçam levantadas, formando a asa da mosca.


11º Divida o tufo ao meio, aplicando uma amarração em forma de 8 ao redor de ambas as partes. Aplique algumas voltas com o fio de atado ao redor da base de cada parte, cuidando para que as asas mantenham o formato de V.


12º Prenda as duas penas do pescoço do galo na lateral da haste, bem próximas à base das asas. Passe o fio de atado para a frente das asas, posicionando-o próximo ao olho do anzol.


13º Dê três voltas com as penas na haste atrás das asas e duas voltas na frente, finalize amarrando com o fio de atado e cortando o excesso.


14º Puxe todas as fibras pra trás e faça uma pequena cabeça com o fio de atado. Dê o nó de acabamento e aplique uma pequena gotícula de cola.



Variantes:

Basicamente as variantes se resumem às substituições de material, pode-se usar Elk Hair também na cauda, substituir o Elk Hair por Deer Hair, usar Calf Tail para as asas ou fazer a base do abdômen (parte colorida) somente com o fio de atado. Pode-se também variar a cor do floss, sendo as mais comuns amarela, vermelha, branca, preta ou verde.


Como trabalhar a isca:


Deve-se arremessar a mosca rio acima e deixá-la derivar naturalmente pela correnteza. Eventualmente, especiamente em águas mais calmas, pode-se usar a técnica de skating, aplicando-se pequenos toques suaves, fazendo a mosca deslizar na superfície da água como se fosse um inseto tentando voltar a voar.

Lembre de Não Esquecer:
  • Essa é uma mosca grande, volumosa, uma midge atada em um anzol do mesmo tamanho parecerá muito menor, sendo assim, apresentações delicadas são mais difíceis. Para compensar, procure arremessar um pouco mais além do que faria com uma mosca mais delgada.
  • Por conta dessa característica, é recomendável um leader (e um tippet) mais forte (menos fino) que normalmente seria usado com uma mosca menos volumosa em um anzol de mesma numeração.
Grande Abraço