sábado, 15 de dezembro de 2012

Melhores Práticas

Nem sempre as regras ou normas estabelecidas pelos acadêmicos são as formas mais efetivas de execução de uma tarefa. Muitas vezes, soluções de contorno são maneiras mais fáceis e produtivas de se chegar ao mesmo resultado caso fossem aplicados os passos "como manda o figurino". Também chamadas de "Pulo do Gato", dicas, macetes ou "Melhores Práticas", tratam-se na verdade de métodos ou técnicas que produzem consistentemente resultados superiores àqueles atingidos por outros meios. Então, vamos a algumas melhores práticas do atado!

Base Estável para o(s) vidro(s) de cola(s)

É bastante comum o atador estar com uma das mãos ocupada segurando o material a ser fixado no anzol enquanto a outra procura uma ferramenta, é justamente nesta hora que esbarra-se no vidro de cola provocando uma tragédia grega! Para evitar tais catástrofes replico aqui uma ótima sacada retirada de um mini-curso de atado em DVD do mestre Lefty Kreh: um pedaço de espuma, isopor ou EVA no qual se faz um encaixe para o(s) vidro(s) de cola, fixado a uma fina lâmina de madeira ou plástico.


O conjunto confere a estabilidade necessária para garantir o sossego do atador

Prendendo corretamente o Anzol na Morsa

Fixar o anzol (hook) corretamente na morsa é fundamental para atar uma mosca, evita acidentes, melhora o acabamento, reduz o retrabalho. Para prendê-lo de forma a transmitir segurança e confiabilidade ao atador, convém observar os seguintes pontos:
  1. A haste (shank) deverá estar paralela à mesa ou bancada onde está a morsa (vise).
  2. Deve ser fixado apenas pela parte inferior da curva (bend), permitindo o atado de materiais na parte superior.  
  3. A parte que ficará presa deverá ser somente o suficiente para mantê-lo firme na posição. Pode-se testar a fixação forçando a haste pra baixo bem próximo ao olho (eye), se estiver bem fixado a haste retornará à posição horizontal sem que o anzol saia do lugar.
Para facilitar, imagine um círculo divido em quadrantes sobreposto à curva do anzol, o ponto de fixação deve ser determinado pelo quadrante inferior esquerdo (quadrante número 3).


Para quem ainda não dominou o controle do Bobbin, sugiro colocar a ponta do anzol (point) entre as pinças da morsa, de forma a evitar que o fio de atado (thread) seja lacerado podendo inclusive resultar em sua ruptura.


Ah, e não custa nada lembrar: Anzol sem farpa (barb) ou com a farpa amassada sai muito mais fácil da roupa, facilita a fisgada e a liberação do peixe.

Fixando o material no Anzol

Devido ao movimento de enrolamento do fio sobre o material a ser fixado no anzol, cuja haste é cilíndrica, existe uma tendência do material girar sobre a haste à media em que o fio de atado é tensionado. Para evitar o giro e consequentemente que o material fique fora da posição desejada, siga os seguintes passos:

1. Prenda o material sobre o ponto de fixação usando o polegar e o indicador.


2. Passe o thread entre o polegar e o indicador e depois passe por trás da haste do anzol, dando uma volta completa com o fio sobre o material.

3. Não tensione o thread, repita o passo anterior dando uma segunda volta sobre o material.

4. Solte os dedos e se preciso faça os ajustes de reposicionamento necessários.

5. Recoloque somente o indicador sobre o material e tensione o fio de atado dando mais três voltas completas sobre o material sem afrouxar a tensão no fio.

Procure realizar exatamente o número de voltas necessárias para a fixação do material, sempre que possível evite exceder esse número. O resultado final será uma isca com melhor acabamento e proporção. 

Uma outra forma de posicionar o thread precisamente bem rente aos dedos (exatamente no ponto onde deseja-se fixar o material) é antes de executar a primeira volta, girar o Bobbin no sentido horário torcendo o thread. Quando a primeira volta em torno do material for executada, o fio de atado (torcido) tenderá a se destorcer na direção da curva do anzol.


Aplicando o Dubbing ao Fio de Atado

A técnica mais comum de Dubbing é a aplicação direta de pequenas quantidades de material diretamente ao thread, simplesmente torcendo essa porção de material sobre o fio de atado no sentido horário. Mas nem todo material adere de forma satisfatória, nesses casos, e de forma geral para o atador iniciante, uma fina camada de cera de abelha aplicada sobre o thread criará o atrito necessário sobre a superfície do fio para que o material se fixe adequadamente. Alguns fios de atado já são pré-encerados, porém não se comparam a um thread com uma camada de cera aplicada manualmente. Para facilitar a aplicação da cera de abelha ao fio de atado, basta moldá-la em um formato de bastão ou sabonete.

Aplicando cera de abelha ao fio de atado 

Garantindo a hidrodinâmica das iscas

Muitas moscas, em especial os streamers, normalmente possuem um formato alongado e fusiforme. De modo a facilitar o nado dessas iscas, as fibras estão  dispostas longitudinalmente direcionadas para trás, proporcionando fluência e  diminuição do arrasto. É importante manter o material nessa disposição até que esteja adequadamente atado, para tanto pode-se simplesmente "puxá-lo" para trás com auxílio dos dedos indicador, médio e polegar ou utilizar um Hackle Guard. A ação de puxar para trás as fibras do material também é muito  utilizada nas finalizações das iscas, principalmente quando a isca tem um hackle.
   
Usando os três dedos

O Hackle Guard

Existem outras formas de manter as fibras no lugar até que estejam atadas, pode-se usar um pedaço de saco plástico, um elástico, mas o substituto mais simples e prático é um pedaço de canudinho de refrigerante no qual se aplica um corte longitudinal para a passagem do thread.


Pedaço de canudinho cortado usado como Hackle Guard

Evitando o retrabalho

É muito comum haver sobra de material após a fixação com o fio de atado, esse excesso precisa ser aparado, nessa hora não é incomum cortar o thread junto com a sobra de material. A melhor forma de evitar isso e ter que refazer o trabalho até esse ponto é sempre levantar o material antes de aparar, pois o fio de atado estará pra baixo do anzol sustentando o Bobbin.

Levante sempre o material antes de aparar as sobras 

Produzindo Iscas Duráveis

Normalmente as moscas sofrem uma degradação natural seja pelos choques com galhos, pedras, etc, durante os arremessos, seja pelo próprio desgaste causado pelos ataques dos peixes. Alguns recursos podem ser utilizados para prover mais resistência e durabilidade às iscas permitindo um número maior de utilizações:
  • Sempre que for fixar algum material ao longo da haste do anzol aplique uma camada de cola.
  • Pra maioria das iscas uma "cama" de linha ajuda em muito a evitar que o material gire na hora de ser fixado (antes de fazer a "cama" passe cola na haste).
  • Algumas moscas possuem um Hackle por toda a haste do anzol (Woolly Bugger), reforçar esse hackle com um fio de cobre garante que ele não irá se soltar facilmente, principalmente quando se estiver pescando espécies com dentição mais potente.
  • Atenção redobrada na finalização, os nós devem ser bem executados e travados com uma gota de cola ou cobertos com resina epóxi (eventualmente pode também ser aplicada à cabeça da mosca).
Mais duas práticas que promovem o aumento da percepção do mosqueiro e proporcionam mais qualidade ao atado:

Uma luminária bem posicionada com o foco na isca é fundamental para ressaltar os detalhes.

Use uma placa (papel, EVA ou outro material) como fundo, de tal forma que a isca seja visualizada com contraste pelo atador. Dependendo das cores dos materiais utilizados na mosca essa placa pode ser escura ou clara.


Essas práticas se aplicam à maioria das situações, porém vale lembrar que em alguns casos, deve ser feita uma abordagem diferente, como por exemplo o uso de um anzol distinto (nesse caso um wormhook) que deve ser fixado na morsa de outra maneira.

Um anzol para minhoca deve ser fixado de forma diferente  na morsa
Fonte: http://www.willowford.net 

Neste caso muito provavelmente o atador já não mais será um aprendiz (como eu) e dispensará essas orientações.

Grande Abraço

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Pesque, Solte, Fotografe e Preserve

À primeira vista, esse título pode parecer um tanto estranho, pois se essas ações forem seguidas na seqüência, não haverá como fotografar o peixe, dado que o mesmo já terá sido libertado. Porém, particularmente, acredito que as palavras Pesque e Solte nunca deveriam ser escritas e pronunciadas separadas ou, de outra forma, quase sempre deveriam estar juntas quando em um contexto de pesca esportiva.

 Truta sendo liberada após captura
Fonte: http://www.rioproducts.com 

O Fly está constantemente relacionado à prática do Catch and Release (ou Pesque e Solte), a veemente característica artesanal da pesca com mosca (na qual em muitas das vezes é o próprio pescador que confecciona a isca) atribui a essa modalidade um cunho tipicamente conservacionista. Não é incomum encontrar locais onde só é possível praticar a pesca esportiva usando equipamento de Fly. A prática de Pescar e Soltar está diretamente associada ao conceito de preservação, quando executadas de forma correta, a captura, o manuseio e a liberação do peixe garantem a total recuperação e retorno seguro ao seu habitat. 

A iniciativa de devolver o peixe fornece ao pescador esportivo de forma singular, a clara noção de que ele é parte integrante do ecossistema, permitindo a  ele vislumbrar a importância de seu papel enquanto elemento constituinte desse ambiente, proporcionando a sensação de integração e convívio pacífico com a natureza.

Fonte: http://www.lyfeuwant.com

A devolução do peixe capturado (em conjunto com outras ações de preservação do locais de pesca), é a única maneira de garantir que no futuro ainda haverá o que se pescar. O pensamento de que só um ou alguns exemplares capturados e sacrificados não será suficiente para impactar a população de peixes daquele rio ou lago onde você costuma pescar é totalmente equivocado. Reflita um pouco, imagine se todos os pescadores que tiverem acesso a esse local agirem da mesma forma, por várias temporadas seguidas, sem dar tempo para que a população se restabeleça. Lembra daquele exemplar enorme, daquele troféu que você conseguiu capturar há um tempo atrás? Se ele tivesse sido devolvido, outros pescadores também teriam a chance de fisgá-lo. Agora imagine que se ao invés de você, tivesse sido outro a capturá-lo, caso este pescador não o devolva será você que nunca mais conseguirá ter o prazer de lutar com ele.

Fonte: http://www.tofinofishing.com

A liberação do peixe e seu conseqüente retorno à vida, pode se tornar muito mais serena bastando apenas que se tome alguns cuidados básicos:

-> Use anzóis sem farpa (ou com a farpa amassada)

Esta é sem dúvida uma prática que deve ser adotada por diversos motivos: em primeiro lugar para preservar a integridade física do pescador. Especialmente no fly, pois a isca passa por várias vezes próxima ao corpo (e principalmente à cabeça) do mosqueiro, em um eventual acidente, o anzol sem farpa será retirado de modo muito mais fácil. Em segundo lugar porque aumenta a eficiência das fisgadas, dado que a farpa é um ponto de resistência à penetração do anzol na boca do peixe. E finalmente porque o anzol sai facilmente sem forçar a retirada da boca do peixe, reduzindo o furo causado pela fisgada e a probabilidade de infecção por vírus e bactérias.

Não custa nada lembrar que existe uma forma correta de amassar a farpa do anzol.

-> Use um puçá (passaguá), alicate de contenção ou bicheiro

Imobilizar o peixe evitando que ele se debata facilita a retirada do anzol e deixa a mão do pescador longe de acidentes. Para peixes de boca muito mole, como a truta por exemplo, o uso do puçá (net como é chamado no Fly) é o mais indicado, nesse caso o alicate de contenção pode prejudicar mais do que ajudar. Se optar pelo uso do bicheiro, fisgue na parte inferior da boca, de dentro para fora, sem perfurar a língua.

-> Antes de tocar no peixe, molhe as mãos

Essa simples atitude ajuda a preservar o muco natural que cobre o corpo dos peixes. Nunca em hipótese nenhuma toque em suas guelras.

-> Não canse o peixe além do necessário

Procure sempre equilibrar o equipamento em função do peixe que irá pescar. Evite prolongar o tempo de briga com o peixe, isso pode levá-lo à exaustão prejudicando sua recuperação.

-> Vire o peixe de barriga pra cima

Essa prática funciona com a grande maioria dos peixes, causando um distúrbio momentâneo em seu sistema de orientação, normalmente eles ficam mais calmos, facilitando em muito a retirada do anzol.

-> Mantenha o peixe fora da água o menor tempo possível

Manuseie sempre o peixe perto da água, se estiver usando um puçá, mantenha-o dentro da água enquanto retira o anzol. Caso possua uma máquina fotográfica à prova d'água, a liberação pode ser feita sem retirar o peixe do seu elemento, as fotos ficarão ainda mais bonitas.

-> Respeite o tempo de recuperação dos peixes

Procure um lugar de águas calmas, sem correnteza e segure o peixe pela cauda sem que ele se esforce, até que sua recuperação seja plena e ele possa nadar normalmente.

E finalmente, mais uma dica para evitar acidentes com o pescador: nunca pesque sem proteção nos olhos, sempre use óculos (seja ele de grau, polarizado ou simplesmente de sol).


Fonte: http://www.fishandfloat.com

Existem 2 maneiras de eternizar os recompensantes momentos das batalhas que o pescador experimenta em suas capturas: uma é depender única e exclusivamente da sua memória, a outra é registrar as lembranças desses preciosos instantes em fotos. Não gosto muito de vídeos (para esse fim), admito que em diversas situações eles são indispensáveis, porém a forma mais poética de testemunhar todos os detalhes, muitas vezes imperceptíveis em um vídeo, desses momentos é através da sua imobilidade.

Portanto pratique e divulgue essas ações: Pesque, Fotografe, Solte e Preserve.

Grande Abraço