domingo, 20 de setembro de 2015

Jazzer Buzzers

Eles estão presentes nos quatro cantos do mundo zunindo nos ouvidos dos habitantes de todos os continentes do planeta. São comumente chamados de moscas verdadeiras (true flies) pois a "mosca doméstica" pertence a esse grupo de insetos, facilmente identificados quando adultos, apresentam 2 pares de asas (que dão origem ao nome da ordem). Em contrapartida as larvas apresentam uma variação morfológica tão grande que não existem características que as diferenciem das larvas de outras ordens de insetos. Os dípteros tem ciclo de vida completo (ovo, larva, pupa e adulto), devido à grande quantidade de indivíduos, desde o estágio de larva até o adulto (incluindo o emergente) são uma importante fonte de proteína para muitas espécies de peixes (principalmente para alevinos, devido a seu tamanho diminuto) e juntamente com os tricópteros, ephemerópteros e plecópteros são as ordens de insetos mais relevantes para a pesca com mosca. 



Pertencem a uma das maiores ordens de insetos contando com mais de 150 mil espécies classificadas em cerca de 10 mil gêneros, de 188 famílias diferentes, dentre as quais pode-se destacar uma em especial, a Chironomidae. Com larga distribuição mundial podem ser encontrados desde o Himalaia a mais de 4.500 metros de altura, até profundidades de mais de 1.600 metros, são umas das poucas famílias de insetos que conseguem habitar o mar em sua zona bêntica, pode-se afirmar que o único habitat inexplorado por essa família é o mar aberto. Alguns gêneros são muito rústicos e resistentes podendo sobreviver a condições bastante adversas, por isso são importantes bioindicadores, em ambientes muito poluídos por matéria orgânica e com pouco oxigênio dissolvido, as larvas de Chironomidae podem ser os únicos macroorganismos a sobreviver. 


Os padrões que intentam imitar uma larva e/ou pupa de Chironomidae, popularmente conhecidos como Buzzers, começaram a se tornar populares por volta dos anos 20, acredita-se que seu sucesso se deu devido a serem moscas fáceis de se atar, poder serem usadas praticamente em qualquer lugar do mundo por conta da infinidade de espécies e porque eclodem o ano todo. Depois de ficarem famosos, aos poucos os padrões de wets se tornaram a preferência dos mosqueiros e a popularidade dos Buzzers diminuiu. Alguns anos depois, por volta da década de 60, com o surgimento de povoamentos e criações comerciais de peixes em águas paradas (lagos e reservatórios) surgiu uma nova onda de interesse nos Buzzers e a partir daí esses padrões se mantiveram populares até os dias de hoje. Os padrões mais modernos recebem acabamento em resina ou verniz o que além de conferir-lhes maior durabilidade, acrescenta beleza ao atado atraindo tanto peixe como pescador.


Dentre os estágios metamórficos da Chironomidae, o mais importante é o da pupa, pois é neste estágio que ficam mais expostas (muitas larvas se refugiam e poucas nadam livremente e o estágio emergente é bem rápido), logo o mais indicado é focar o atado no estágio de pupa que é o que mais provoca ataques. Existem centenas de receitas e padrões, abaixo alguns exemplos:


Suspender Buzzer

Quill Buzzer

Hot Spot Buzzer

Especial de Natal (Xmas Buzzer)

Um dos padrões mais antigos e simples, o Blagdon Buzzer, data da década de 20 (1920s) e existem indícios de que tenha sido o primeiro buzzer. Atribui-se a autoria dessa mosca ao Dr. Howard Alexander Bell. Acredita-se que o padrão tenha surgido em função das observações que o Dr. Bell fazia do conteúdo dos intestinos dos peixes capturados por ele no Lago Blagdon. Desde então, até os dias de hoje, é um padrão eficiente, amplamente usado por diversos mosqueiros. Sendo assim, vamos a seu passo a passo.


Material Básico:
  • Anzol Partridge Captain Hamiton Wet Fly #14
  • Fio de Atado Ultra Thread 140 Denier Black
  • UNI French Oval Tinsel Silver
  • Poly Yarn White

Passo a Passo:

1º Coloque um anzol com a farpa amassada na morsa e faça uma base de linha até a metade da curva.



2º Prenda o tinsel e com o fio de atado molde o corpo, que deverá ser delgado, porém apresentar certo volume (cerca de 3 a 4 vezes a espessura da haste).




3º Enrole o tinsel de forma espaçada em direção ao olho do anzol, fie com 2 voltas de fio de atado e corte o excesso.



4º Nesse ponto, prenda um tufo de Poly Yarn tomando cuidado para que fique exatamente sobre a haste.


5º Prenda o Poly Yarn, corte o excesso que estava para frente e como thread faça a cabeça da mosca, mais volumosa.


6º Arremate com o seu nó de acabamento preferido, aplique uma gotícula de cola e corte o excesso do Poly Yarn, cuidando para que não ultrapasse a metade do comprimento da haste. Aplique verniz na cabeça da mosca.



Como trabalhar a isca:

Em se tratando de imitações de larvas e pupas, principalmente em numeração pequena (menores que #16), as estratégias mais comuns de apresentação e pesca são: arremessar rio acima deixando que a mosca desça ao sabor da correnteza deriva morta (dead drift), podendo-se fazer uso ou não de um indicador de fisgada; arremessar a mosca e recuperá-la através de recolhimentos curtos, imprimindo à mosca curtos deslocamentos em "pulsos"; arremessar a mosca e recuperá-la lentamente podendo em algumas situações deixá-la simplesmente parada. As larvas de mosquitos são encontradas com mais frequência em águas calmas/paradas (lagos e poços), normalmente ficam flutuando abaixo da superfície e por vez ou outra se deslocam através violentos movimentos do corpo, para imitar esse movimento a melhor estratégia é dar puxões bem curtos, repetidos a intervalos de tempo mais longos, puxe, conte até 10 e repita esse ciclo variando a velocidade (para mais e pra menos).

Lembre de Não Esquecer:


Apesar de em sua grande maioria os peixes insetívoros apresentarem comportamento alimentar tipicamente oportunista, consumindo o que lhes é apresentado, em algumas situações específicas pode haver seletividade quanto ao tamanho e cor. Nesse cenário, uma pequena variação na numeração do anzol ou na tonalidade da mosca pode ser a diferença entre o sucesso ou o fracasso de uma pescaria, assim a coleta de alguns indivíduos que habitam o local pode ajudar de sobremaneira na escolha do padrão mais apropriado visando aumentar as chances de fisgadas.

Grande Abraço

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A Primeira Encomenda A Gente Nunca Esquece

Quando comecei na modalidade pesca com mosca, há 3 anos atrás, não poderia nem imaginar que hoje estaria atando moscas pros amigos e que receberia encomendas. Minhas primeiras Woolly Buggers eram tão ruins que ainda não consegui entender como fui capaz de criar aqueles "monstrengos". Desde então, estudei (e estudo) muito, treinei (e treino) bastante, cada dia é um novo aprendizado, e ainda há um imenso caminho a percorrer, isso torna o fly ainda mais cativante e motivante.

Além da divulgação aqui no blog, tenho participado também de grupos e fóruns e apesar de não ter tanta experiência assim, procuro sempre ajudar repassando o que aprendo, acredito que dessa forma o "caminho das pedras" será menos penoso pros mosqueiros iniciantes. Certo dia desses, o amigo Kauan Pitella (de Jaguarão - RS), entrou em contato comigo, dizendo que apesar de já ser pescador esportivo, estava iniciando na pesca com mosca, pensei se tratar de alguma dúvida e me pus à disposição para ajudá-lo no que fosse necessário. Mas para minha surpresa, o motivo do contato era uma encomenda de moscas, a minha primeira. Depois de trocarmos algumas mensagens pra acertarmos os detalhes e de um tempo na mesa de atado (caprichando tanto quanto eu podia), minha primeira encomenda estava seguindo (inesquecível).

O conjunto (de cima para baixo, da esquerda para a direita): 
Bubble Diver, 
Gafanhotos GO FLY
Vanilla Ice Bugger, Autumn Splendor, 
Caddis Pupa, Copper John, Hare's Ear, Spider, 
CDC Caddis, Blood Worm, 
Missionary Wet e Matuka

Passados alguns dias de tempo ruim, muita chuva e frio, sem condições de pesca, orgulhoso e muitíssimo satisfeito recebo essas fotos do amigo Kauan registrando capturas nas moscas que havia me encomendado.

Saicanga capturada com gafanhoto GO FLY 

A "dentuça" não resistiu 

É verdadeiramente um prazer saber que de alguma forma, pude contribuir para momentos de alegria dos amigos mosqueiros, mesmo à distância e pude "pescar junto" com ele. Como diria o Kauan: "Vamos dá-lhe"!

Grande Abraço