segunda-feira, 26 de outubro de 2015

The Kite

Em recente pesquisa por padrões parachute, buscando alguma variação promissora, me deparei com esta interessante história e depois de lê-la não pude me conter para atar algumas moscas e experimentá-las na prática. O texto mencionava uma reportagem da Freshwater Fishing Magazine de Novembro/Dezembro de 2009, na qual Mick Hall e Philip Bailey descreviam o surgimento de uma variante da famosa Kite's Imperial, um padrão consagrado do não menos famoso Oliver Kite e dizia basicamente o seguinte:

Oliver Kite, galês de nascimento, mudou-se para a Inglaterra na adolescência e após ter servido ao exército britânico, fixou residência em solo inglês. Coincidentemente, ou por um desses caprichos da natureza, passou a viver próximo a Frank Sawyer, se tornaram amigos e companheiros de pesca. A influência de Sawyer tanto no estilo de pesca quanto nas moscas usadas por Kite é notória para quem quer que leia seus escritos. E foi justamente a leitura de um dos livros de Kite - Nymph Fishing in Practice, que chamou a atenção e despertou o interesse de Philip Bailey sobre a famosa mosca Kite's Imperial.


The Kite, um excelente padrão de parachute

Oliver Kite era um minimalista e considerava que a apresentação era mais importante do que a cor ou o formato da mosca (fidelidade ao inseto real). Depois de ter publicado 6 receitas de moscas secas de sua autoria, com o tempo passou a acreditar que apenas uma, a Imperial, era capaz de produzir capturas não importando de qual inseto real os peixes estivessem se alimentando. Um outro aspecto que se tornou marca registrada de suas moscas era o padrão anzol nú, uma quantidade significativamente reduzida de material sobre a haste do anzol, recoberta por algumas voltas de fio de cobre fino (tão fino e em tão pouca quantidade, que não comprometeria a flutuabilidade de uma mosca seca). Ele concentrava suas pescarias nos chalk streams (rios que nascem em montanhas de rocha calcárea) da Inglaterra, raramente se aventurando a locais mais distantes.


O padrão minimalista de Oliver Kite está bem representado no corpo esguio da Kite

Quando Philip Bailey mudou-se para a Inglaterra, influenciado por Oliver Kite, usava com frequência a Imperial em suas pescarias nos rios do norte do país. A performance da mosca era boa, mas não se comparava à produtividade das parachutes e spiders, pois os rios do norte da Inglaterra passavam por períodos de cheias e em alguns trechos isso produzia águas mais rápidas e fortes corredeiras, e nessa situação as Imperial afundavam. Bailey estava convencido de que o padrão de Kite era efetivo em muitas situações, inclusive em momentos que outras moscas falhavam, porém em águas mais rápidas o desempenho não era satisfatório. Isso o motivou a adaptar a Imperial para um padrão parachute, e foi assim que surgiu a Kite.

Não existe uma descrição muito clara dos passos necessários para o atado da Imperial, o que se sabe é que por conta da tendência nude hook, tudo era pensado para que o resultado final fosse uma mosca delgada. E apesar da descrição detalhada de montagem publicada por Philip Bailey, experimentei algumas maneiras diferentes de construção da Kite, a que descrevo abaixo foi a que produziu o melhor resultado, em minha opinião, levando-se em consideração os fundamentos de Oliver Kite. Fiz duas substituições na lista de materiais: a primeira foi o uso das fibras de pena de avestruz, no lugar das fibras de pena de Blue Heron (Garça Azul). A segunda foi a troca do fio de cobre por tinsel oval dourado, pois seguindo o objetivo de atar uma mosca que não afunde, achei por bem, mesmo o fio de cobre sendo muito fino, retirar qualquer peso adicional. Bom, vamos à montagem da Kite.


Material Básico:
  • Anzol Partridge Capitain Hamilton #12
  • Fio de Atado Veevus Cinza 10/0
  • Polyyarn Branco
  • Tinsel Oval Fino Dourado
  • Pena de Avestruz
  • Fio de Seda Roxo
  • Pena de Galo (Saddle) Marrom
  • Pena de Galo (Hackle) Marrom


Passo a Passo:

1º Coloque um anzol com a farpa amassada na morsa e faça uma pequena base de linha para ancorar o poste de polyyarn, comece a prender o fio de atado no ponto que representa 25% do comprimento da haste, a partir do olho do anzol. Dê umas 5 ou 6 voltas em direção à curva do anzol e retorne ao ponto inicial.


2º Selecione um tufo de polyyarn, dobre ao meio, envolvendo o fio de atado e prenda na parte de cima da haste com 2 ou três voltas do thread. 


Em seguida, puxe as duas metades do tufo para cima e aplique algumas voltas com o fio de atado para formar a base do poste. Pode-se aplicar uma gotícula de cola na base para fixá-lo em definitivo.


4º Logo atrás do poste, prenda o fio de seda roxo e leve a amarração até à curva do anzol.


5º Selecione de 10 a 12 fibras de uma pena das costas de galo e prenda no ponto onde o fio de atado está, bastam 2 a 3 voltas.


6º No mesmo ponto, fixe um pedaço de tinsel e em seguida adiante o fio de atado até a frente da base do poste. Faça uma alça com o thread e aplique mais duas ou três volta na haste.


7º Na frente do poste, fixe 2 fibras de pena de avestruz, voltadas para a parte de trás do anzol.


8º Enrole o fio de seda em volta da haste até alcançar o poste, continue enrolando na frente do poste, fixe-o com o fio de atado e corte o excesso.


9º Corte uma das pontas da alça do fio de atado, em sua volta torça as duas fibras da pena de avestruz, como se fosse uma corda.


10º  Enrole as fibras em direção à curva do anzol, até à base da cauda de forma espaçada.


11º Mantenha as fibras tensionadas e no sentido contrário, enrole o tinsel sobre as fibras da pena de avestruz, também de forma espaçada até à frente do poste. Prenda o tinsel com algumas voltas do fio de atado e corte o excesso.


12º Fixe a pena de galo na base do poste com algumas voltas do fio de atado, cuidando para que a parte brilhosa da pena fique voltada para baixo. Levante a pena segurando-a junto com o poste enquanto aplica algumas volta do fio de atado, enrolando o thread para cima, até atingir aproximadamente o tamanho de 1/4 do comprimento da haste. retorne com o fio até a base do poste, reforçando a amarração.


13º Enrole a pena em volta do poste, uma volta colada à outra, de cima para baixo, até atingir a base do poste. Puxe a pena para baixo, em ângulo reto com a haste do anzol e fixe-a com duas ou três voltas as do fio de atado.


14º Aplique o nó de acabamento em volta do poste, corte o excesso da pena, o fio de atado e pingue uma micro gota de cola pra finalizar.


15º Corte o excedente do poste para que tenha aproximadamente o mesmo tamanho da haste do anzol.


Como trabalhar a isca:

Assim como a maioria das moscas secas, a melhor maneira de trabalhar essa mosca é arremessá-la rio acima e acompanhar atentamente sua descida, com a linha quase esticada e esperar o ataque. Uma pequena quantidade de flotante pode ser aplicado na mosca para que fique impermeabilizada e melhore sua flutuação evitando o encharcamento dos materiais que a revestem.

Lembre de Não Esquecer:

Sempre tenha em mente que o objetivo final é produzir uma mosca com o corpo delgado, sem tórax aparente, mantendo o mesmo volume desde a cauda até a cabeça da mosca. Para tanto, use um fio de atado fino e economize no número de voltas para prender os materiais. Você irá se surpreender quando notar que é possível diminuir muito o número de voltas de fio de atado que normalmente usamos.

E pra quem acha que essa mosca não pega peixe, pois afinal da contas não existem insetos com essa coloração na natureza, está aí a prova.



Grande Abraço