sábado, 15 de dezembro de 2012

Melhores Práticas

Nem sempre as regras ou normas estabelecidas pelos acadêmicos são as formas mais efetivas de execução de uma tarefa. Muitas vezes, soluções de contorno são maneiras mais fáceis e produtivas de se chegar ao mesmo resultado caso fossem aplicados os passos "como manda o figurino". Também chamadas de "Pulo do Gato", dicas, macetes ou "Melhores Práticas", tratam-se na verdade de métodos ou técnicas que produzem consistentemente resultados superiores àqueles atingidos por outros meios. Então, vamos a algumas melhores práticas do atado!

Base Estável para o(s) vidro(s) de cola(s)

É bastante comum o atador estar com uma das mãos ocupada segurando o material a ser fixado no anzol enquanto a outra procura uma ferramenta, é justamente nesta hora que esbarra-se no vidro de cola provocando uma tragédia grega! Para evitar tais catástrofes replico aqui uma ótima sacada retirada de um mini-curso de atado em DVD do mestre Lefty Kreh: um pedaço de espuma, isopor ou EVA no qual se faz um encaixe para o(s) vidro(s) de cola, fixado a uma fina lâmina de madeira ou plástico.


O conjunto confere a estabilidade necessária para garantir o sossego do atador

Prendendo corretamente o Anzol na Morsa

Fixar o anzol (hook) corretamente na morsa é fundamental para atar uma mosca, evita acidentes, melhora o acabamento, reduz o retrabalho. Para prendê-lo de forma a transmitir segurança e confiabilidade ao atador, convém observar os seguintes pontos:
  1. A haste (shank) deverá estar paralela à mesa ou bancada onde está a morsa (vise).
  2. Deve ser fixado apenas pela parte inferior da curva (bend), permitindo o atado de materiais na parte superior.  
  3. A parte que ficará presa deverá ser somente o suficiente para mantê-lo firme na posição. Pode-se testar a fixação forçando a haste pra baixo bem próximo ao olho (eye), se estiver bem fixado a haste retornará à posição horizontal sem que o anzol saia do lugar.
Para facilitar, imagine um círculo divido em quadrantes sobreposto à curva do anzol, o ponto de fixação deve ser determinado pelo quadrante inferior esquerdo (quadrante número 3).


Para quem ainda não dominou o controle do Bobbin, sugiro colocar a ponta do anzol (point) entre as pinças da morsa, de forma a evitar que o fio de atado (thread) seja lacerado podendo inclusive resultar em sua ruptura.


Ah, e não custa nada lembrar: Anzol sem farpa (barb) ou com a farpa amassada sai muito mais fácil da roupa, facilita a fisgada e a liberação do peixe.

Fixando o material no Anzol

Devido ao movimento de enrolamento do fio sobre o material a ser fixado no anzol, cuja haste é cilíndrica, existe uma tendência do material girar sobre a haste à media em que o fio de atado é tensionado. Para evitar o giro e consequentemente que o material fique fora da posição desejada, siga os seguintes passos:

1. Prenda o material sobre o ponto de fixação usando o polegar e o indicador.


2. Passe o thread entre o polegar e o indicador e depois passe por trás da haste do anzol, dando uma volta completa com o fio sobre o material.

3. Não tensione o thread, repita o passo anterior dando uma segunda volta sobre o material.

4. Solte os dedos e se preciso faça os ajustes de reposicionamento necessários.

5. Recoloque somente o indicador sobre o material e tensione o fio de atado dando mais três voltas completas sobre o material sem afrouxar a tensão no fio.

Procure realizar exatamente o número de voltas necessárias para a fixação do material, sempre que possível evite exceder esse número. O resultado final será uma isca com melhor acabamento e proporção. 

Uma outra forma de posicionar o thread precisamente bem rente aos dedos (exatamente no ponto onde deseja-se fixar o material) é antes de executar a primeira volta, girar o Bobbin no sentido horário torcendo o thread. Quando a primeira volta em torno do material for executada, o fio de atado (torcido) tenderá a se destorcer na direção da curva do anzol.


Aplicando o Dubbing ao Fio de Atado

A técnica mais comum de Dubbing é a aplicação direta de pequenas quantidades de material diretamente ao thread, simplesmente torcendo essa porção de material sobre o fio de atado no sentido horário. Mas nem todo material adere de forma satisfatória, nesses casos, e de forma geral para o atador iniciante, uma fina camada de cera de abelha aplicada sobre o thread criará o atrito necessário sobre a superfície do fio para que o material se fixe adequadamente. Alguns fios de atado já são pré-encerados, porém não se comparam a um thread com uma camada de cera aplicada manualmente. Para facilitar a aplicação da cera de abelha ao fio de atado, basta moldá-la em um formato de bastão ou sabonete.

Aplicando cera de abelha ao fio de atado 

Garantindo a hidrodinâmica das iscas

Muitas moscas, em especial os streamers, normalmente possuem um formato alongado e fusiforme. De modo a facilitar o nado dessas iscas, as fibras estão  dispostas longitudinalmente direcionadas para trás, proporcionando fluência e  diminuição do arrasto. É importante manter o material nessa disposição até que esteja adequadamente atado, para tanto pode-se simplesmente "puxá-lo" para trás com auxílio dos dedos indicador, médio e polegar ou utilizar um Hackle Guard. A ação de puxar para trás as fibras do material também é muito  utilizada nas finalizações das iscas, principalmente quando a isca tem um hackle.
   
Usando os três dedos

O Hackle Guard

Existem outras formas de manter as fibras no lugar até que estejam atadas, pode-se usar um pedaço de saco plástico, um elástico, mas o substituto mais simples e prático é um pedaço de canudinho de refrigerante no qual se aplica um corte longitudinal para a passagem do thread.


Pedaço de canudinho cortado usado como Hackle Guard

Evitando o retrabalho

É muito comum haver sobra de material após a fixação com o fio de atado, esse excesso precisa ser aparado, nessa hora não é incomum cortar o thread junto com a sobra de material. A melhor forma de evitar isso e ter que refazer o trabalho até esse ponto é sempre levantar o material antes de aparar, pois o fio de atado estará pra baixo do anzol sustentando o Bobbin.

Levante sempre o material antes de aparar as sobras 

Produzindo Iscas Duráveis

Normalmente as moscas sofrem uma degradação natural seja pelos choques com galhos, pedras, etc, durante os arremessos, seja pelo próprio desgaste causado pelos ataques dos peixes. Alguns recursos podem ser utilizados para prover mais resistência e durabilidade às iscas permitindo um número maior de utilizações:
  • Sempre que for fixar algum material ao longo da haste do anzol aplique uma camada de cola.
  • Pra maioria das iscas uma "cama" de linha ajuda em muito a evitar que o material gire na hora de ser fixado (antes de fazer a "cama" passe cola na haste).
  • Algumas moscas possuem um Hackle por toda a haste do anzol (Woolly Bugger), reforçar esse hackle com um fio de cobre garante que ele não irá se soltar facilmente, principalmente quando se estiver pescando espécies com dentição mais potente.
  • Atenção redobrada na finalização, os nós devem ser bem executados e travados com uma gota de cola ou cobertos com resina epóxi (eventualmente pode também ser aplicada à cabeça da mosca).
Mais duas práticas que promovem o aumento da percepção do mosqueiro e proporcionam mais qualidade ao atado:

Uma luminária bem posicionada com o foco na isca é fundamental para ressaltar os detalhes.

Use uma placa (papel, EVA ou outro material) como fundo, de tal forma que a isca seja visualizada com contraste pelo atador. Dependendo das cores dos materiais utilizados na mosca essa placa pode ser escura ou clara.


Essas práticas se aplicam à maioria das situações, porém vale lembrar que em alguns casos, deve ser feita uma abordagem diferente, como por exemplo o uso de um anzol distinto (nesse caso um wormhook) que deve ser fixado na morsa de outra maneira.

Um anzol para minhoca deve ser fixado de forma diferente  na morsa
Fonte: http://www.willowford.net 

Neste caso muito provavelmente o atador já não mais será um aprendiz (como eu) e dispensará essas orientações.

Grande Abraço

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Pesque, Solte, Fotografe e Preserve

À primeira vista, esse título pode parecer um tanto estranho, pois se essas ações forem seguidas na seqüência, não haverá como fotografar o peixe, dado que o mesmo já terá sido libertado. Porém, particularmente, acredito que as palavras Pesque e Solte nunca deveriam ser escritas e pronunciadas separadas ou, de outra forma, quase sempre deveriam estar juntas quando em um contexto de pesca esportiva.

 Truta sendo liberada após captura
Fonte: http://www.rioproducts.com 

O Fly está constantemente relacionado à prática do Catch and Release (ou Pesque e Solte), a veemente característica artesanal da pesca com mosca (na qual em muitas das vezes é o próprio pescador que confecciona a isca) atribui a essa modalidade um cunho tipicamente conservacionista. Não é incomum encontrar locais onde só é possível praticar a pesca esportiva usando equipamento de Fly. A prática de Pescar e Soltar está diretamente associada ao conceito de preservação, quando executadas de forma correta, a captura, o manuseio e a liberação do peixe garantem a total recuperação e retorno seguro ao seu habitat. 

A iniciativa de devolver o peixe fornece ao pescador esportivo de forma singular, a clara noção de que ele é parte integrante do ecossistema, permitindo a  ele vislumbrar a importância de seu papel enquanto elemento constituinte desse ambiente, proporcionando a sensação de integração e convívio pacífico com a natureza.

Fonte: http://www.lyfeuwant.com

A devolução do peixe capturado (em conjunto com outras ações de preservação do locais de pesca), é a única maneira de garantir que no futuro ainda haverá o que se pescar. O pensamento de que só um ou alguns exemplares capturados e sacrificados não será suficiente para impactar a população de peixes daquele rio ou lago onde você costuma pescar é totalmente equivocado. Reflita um pouco, imagine se todos os pescadores que tiverem acesso a esse local agirem da mesma forma, por várias temporadas seguidas, sem dar tempo para que a população se restabeleça. Lembra daquele exemplar enorme, daquele troféu que você conseguiu capturar há um tempo atrás? Se ele tivesse sido devolvido, outros pescadores também teriam a chance de fisgá-lo. Agora imagine que se ao invés de você, tivesse sido outro a capturá-lo, caso este pescador não o devolva será você que nunca mais conseguirá ter o prazer de lutar com ele.

Fonte: http://www.tofinofishing.com

A liberação do peixe e seu conseqüente retorno à vida, pode se tornar muito mais serena bastando apenas que se tome alguns cuidados básicos:

-> Use anzóis sem farpa (ou com a farpa amassada)

Esta é sem dúvida uma prática que deve ser adotada por diversos motivos: em primeiro lugar para preservar a integridade física do pescador. Especialmente no fly, pois a isca passa por várias vezes próxima ao corpo (e principalmente à cabeça) do mosqueiro, em um eventual acidente, o anzol sem farpa será retirado de modo muito mais fácil. Em segundo lugar porque aumenta a eficiência das fisgadas, dado que a farpa é um ponto de resistência à penetração do anzol na boca do peixe. E finalmente porque o anzol sai facilmente sem forçar a retirada da boca do peixe, reduzindo o furo causado pela fisgada e a probabilidade de infecção por vírus e bactérias.

Não custa nada lembrar que existe uma forma correta de amassar a farpa do anzol.

-> Use um puçá (passaguá), alicate de contenção ou bicheiro

Imobilizar o peixe evitando que ele se debata facilita a retirada do anzol e deixa a mão do pescador longe de acidentes. Para peixes de boca muito mole, como a truta por exemplo, o uso do puçá (net como é chamado no Fly) é o mais indicado, nesse caso o alicate de contenção pode prejudicar mais do que ajudar. Se optar pelo uso do bicheiro, fisgue na parte inferior da boca, de dentro para fora, sem perfurar a língua.

-> Antes de tocar no peixe, molhe as mãos

Essa simples atitude ajuda a preservar o muco natural que cobre o corpo dos peixes. Nunca em hipótese nenhuma toque em suas guelras.

-> Não canse o peixe além do necessário

Procure sempre equilibrar o equipamento em função do peixe que irá pescar. Evite prolongar o tempo de briga com o peixe, isso pode levá-lo à exaustão prejudicando sua recuperação.

-> Vire o peixe de barriga pra cima

Essa prática funciona com a grande maioria dos peixes, causando um distúrbio momentâneo em seu sistema de orientação, normalmente eles ficam mais calmos, facilitando em muito a retirada do anzol.

-> Mantenha o peixe fora da água o menor tempo possível

Manuseie sempre o peixe perto da água, se estiver usando um puçá, mantenha-o dentro da água enquanto retira o anzol. Caso possua uma máquina fotográfica à prova d'água, a liberação pode ser feita sem retirar o peixe do seu elemento, as fotos ficarão ainda mais bonitas.

-> Respeite o tempo de recuperação dos peixes

Procure um lugar de águas calmas, sem correnteza e segure o peixe pela cauda sem que ele se esforce, até que sua recuperação seja plena e ele possa nadar normalmente.

E finalmente, mais uma dica para evitar acidentes com o pescador: nunca pesque sem proteção nos olhos, sempre use óculos (seja ele de grau, polarizado ou simplesmente de sol).


Fonte: http://www.fishandfloat.com

Existem 2 maneiras de eternizar os recompensantes momentos das batalhas que o pescador experimenta em suas capturas: uma é depender única e exclusivamente da sua memória, a outra é registrar as lembranças desses preciosos instantes em fotos. Não gosto muito de vídeos (para esse fim), admito que em diversas situações eles são indispensáveis, porém a forma mais poética de testemunhar todos os detalhes, muitas vezes imperceptíveis em um vídeo, desses momentos é através da sua imobilidade.

Portanto pratique e divulgue essas ações: Pesque, Fotografe, Solte e Preserve.

Grande Abraço

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Complementando o Ferramental

O Fly, mais do que qualquer outra modalidade de pesca esportiva, nos impulsiona para o estudo, não só das técnicas de arremesso, montagem do equipamento, confecção de iscas, mas também de outras diversas matérias relacionadas a ele direta e indiretamente. Um dos assuntos mais interessantes é o estudo dos insetos ou entomologia, através dele o mosqueiro toma conhecimento da sua distribuição, ocorrências regionais, dos hábitos, comportamento, classificação e organização. Aliás classificação e organização estão presentes em inúmeros outros aspectos que envolvem a pesca com mosca: iscas (secas, molhadas, streamers, etc), ações das varas (lentas, rápidas, etc), linhas (flutuantes, afundantes, etc) e ainda em muitos outros. E com o atado não é diferente, logo nada melhor que manter tudo nos seus lugares adotando o uso de uma bancada e/ou de um organizador:

A Bancada ajuda a organizar o ferramental

O Organizador também pode ser uma boa opção pra manter tudo em ordem

Com o conjunto básico de ferramentas é possível confeccionar muitos modelos de moscas, mas nem só de ferramentas essenciais vive o atador. Com alguns incrementos no ferramental, o mosqueiro tem o trabalho de atar facilitado, ganha em produtividade e qualidade, eleva o potencial e melhora o acabamento das iscas. A seguir algumas ferramentas que apesar de não estarem classificadas como essenciais, não são de forma alguma dispensáveis:


Hackle Plier - É literalmente uma pinça para segurar penas (mas pode perfeitamente ser usada com outros materiais), é utilizada para girar e fixar o material sobre a haste do anzol. Penas longas podem ser manipuladas somente com as mãos sem maiores problemas, mas atar uma pena curta sem essa ferramenta exige muita paciência e habilidade. Disponível em uma grande variedade de formatos (alguns possuem uma empunhadura, outros simplesmente um anel ou curvatura para facilitar o giro do material), normalmente é usada na confecção de hackles (colares), formação do abdome, tórax, pernas, etc.


Half Hitch - Em diversas etapas da confecção de uma isca, são necessários nós para fixar o material ao anzol. Um dos nós mais utilizados é o Half Hitch, um nó básico, que pode ser feito com os dedos, com a ajuda do Bodkin ou de maneira mais fácil com a ajuda de uma ferramenta muito simples de mesmo nome (às vezes chamada também de Half Hitch Tool). Algumas ferramentas para atar (Bodkin, Dubbing Tools, Bobbin Threader, etc) possuem um Half Hitch Tool conjugado no cabo. 


Um substituto muito usual e eficiente para esta ferramenta é um tubo de caneta esferográfica (sem a carga), ou qualquer outro objeto cilíndrico (preferencialmente com formato cônico para facilitar o escorregamento do thread).


Modelos Simples, Thompson e Matarelli

Whip Finisher - Outra ferramenta utilizada para fazer nós, normalmente é usada ao final da confecção da mosca para fazer o nó de acabamento ou nó de finalização. Esse nó também pode ser feito somente com as mãos, porém a utilização dessa ferramenta (principalmente para moscas diminutas) facilita enormemente o trabalho. Os três modelos mais utilizados e comercializados são o Simples, o Thompson e o Matarelli. É comum o aprendiz ter um pouco de dificuldade para utilizar essa ferramenta (confesso que levei algum tempo pra pegar o jeito), mas com um pouco de exercício seu uso se torna prático e rápido.


Hair Stacker - Uma das tarefas mais desafiadoras para um atador é alinhar cerdas, sejam elas naturais (pêlos e penas) ou feitas de material sintético, usando somente as mãos. Esse simples e eficiente dispositivo (normalmente de metal ou plástico) é composto por um tubo vazado que se acomoda dentro de um outro fechado em um dos lados. As cerdas são introduzidas no tubo vazado e após algumas batidas em uma superfície rígida, são empurradas até o fundo, ficando as pontas perfeitamente alinhadas e prontas para serem atadas. Existem diversos modelos, com tamanhos e diâmetros diferentes, que se adequam a volumes e comprimentos distintos do material a ser empregado na confecção da mosca.


Dubbing Twister - O Dubbing é uma técnica muito utilizada para a confecção do corpo das moscas, ou parte dele (abdome, tórax, etc). Consiste basicamente em aplicar cerdas (pêlos, fibras de penas e outros materiais) ao fio de atado, facilitando o trabalho de envolver o anzol com essas cerdas. Existem diversas formas de se fazer o dubbing, uma das mais utilizadas é o Twist Dubbing, esse método consiste em fazer um laço (loop) com o thread, colocar as cerdas no laço e com o auxílio dessa ferramenta torcer o laço prendendo as cerdas ao thread.


É mais uma ferramenta extremamente simples que pode ser substituída por um arame torcido quase por completo, deixando-se duas pontas livres que deverão ser curvadas para o encaixe do laço. O desejável nessa ferramenta é que o cabo possua um peso suficiente para manter o fio tensionado, isso vai garantir uma boa fixação das cerdas.

A finalidade do furo é permitir o encaixe da ferramenta na morsa

Hackle Gauge - Após os primeiros atados e com o aprofundamento do estudo, o mosqueiro iniciante perceberá que o equilíbrio da isca é fundamental. De forma a garantir o equilíbrio, o cuidado com a proporcionalidade das partes da mosca (cauda, abdome, tórax, cabeça, hackle, etc) é essencial. Além de fornecer ao atador um gabarito para a confirmação do número do anzol (isso é especialmente útil quando os anzóis estão misturados), essa ferramenta apresenta uma graduação onde o mosqueiro poderá verificar se a pena escolhida possui cerdas com o comprimento ideal para o tamanho do anzol que está sendo usado. Basta apoiar a pena no pino, tensioná-la para que as cerdas fiquem eretas e conferir o comprimento.


Lente de Aumento - Outro instrumento muito útil para conferir os detalhes das moscas é a lupa. Se por um lado não é muito agradável destacar os defeitos da sua "obra prima", por outro é a única forma de melhorar a qualidade e o acabamento do seu trabalho.



Escovas de Velcro - Durante a confecção de uma mosca, muitas vezes é necessário distribuir o material de acordo com a sua finalidade. Nos streamers, as longas fibras precisam ser gradativamente direcionadas para dar forma à isca, já em algumas iscas que imitam insetos e crustáceos é preciso eriçar as cerdas do material para formar as pernas ou o partes do corpo da mosca. Esses singelos utensílios, que facilitam imensamente essas tarefas, nada mais são do que pequenos pedaços de velcro (a face mais abrasiva) fixados em um cabo (de plástico ou madeira), que se assemelham muito a escovas. A de formato cilíndrico é melhor empregada para pentear as fibras da mesma forma que fazemos com longos cabelos, já a plana é mais usada para arrepiar as fibras fixadas na mosca.

 É claro que existem outras ferramentas que o atador lança mão para ganhar tempo, produtividade e qualidade no atados, ainda pretendo ao longo das próximas postagens citá-las, porém farei isso de forma pontual quando uma determinada situação exigir seu uso. Espero que essas informações, mesmo sob a ótica de um aprendiz, ajudem a dirimir as dúvidas dos iniciantes.

Grande Abraço

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ferramentas para Atar

É razoável considerar como verdadeira, a teoria de que o surgimento da pesca com mosca se deu devido à dificuldade que os pescadores encontraram para capturar algumas espécies de peixes que se alimentavam basicamente de insetos. A árdua tarefa de colocar em um anzol esses frágeis e diminutos seres, fez nascer a necessidade de reproduzi-los artificialmente e desenvolver uma técnica apropriada para apresentá-las de forma suave. Existem fortes indícios de que isso foi necessário devido à natureza arisca e desconfiada da espécie que era o foco da captura, muito provavelmente a truta. Já naquela época e talvez ainda hoje, a mais popular entre as espécies visadas pelos "mosqueiros".

Mosaico que data do século 1 representando a pesca com mosca
Museu de Trípoli (Créditos: Michael Jefferies)

Atualmente utiliza-se o fly para a pesca das mais variadas espécies nas mais distintas situações, logo, não é difícil imaginar a enorme variedade de iscas que podem ser utilizadas na tentativa de imitar o cardápio dessas espécies. É certo que para determinados tipos de iscas, tanto a lista de materiais utilizados bem como a diversidade de ferramentas é bastante pequena. Porém, via de regra, a liberdade de escolha que desfruta o pescador detentor de um "menu" variado, lhe confere segurança e aumenta de sobremaneira suas chances de captura, principalmente naqueles dias em que o peixe está mais seletivo. Devido à necessidade de aumento da diversidade do que será ofertado aos peixes, o conjunto de técnicas e utensílios para atar também aumenta. 

Diversidade de moscas usadas na pesca da truta

Combinadas com a morsa, essas ferramentas constituem o conjunto básico para quem deseja enveredar pelo cativante ofício do atado. A seguir, apresento as ferramentas que considero indispensáveis e outras que me facilitaram em muito o trabalho de confecção das moscas que atei até o momento.


Tesoura - É uma ferramenta básica e essencial, alguns atadores a mantém na mão durante todo o trabalho do atado. É usada não só para aparar as sobras de material, mas também para dar formato a certos tipos de moscas. Não precisa ser uma ferramenta específica para atados, pode ser utilizada uma tesoura comum (normalmente é pequena e de ponta fina).


Bobbin - Trata-se de um suporte onde se encaixa as bobinas de fio para atar (thread), com um ponto de pega e um tubo por onde passa o thread. Alguns atadores também o utilizam com bobinas de fio de chumbo (usado para lastrear a isca) e de cobre (usado para aumentar a fixação do material). Existem diversos modelos desde os mais simples até os mais sofisticados com ponta de cerâmica e regulagem de pressão (visando minimizar a ruptura do thread). É sempre bom ter mais de um, na verdade alguns, pois de outra forma, o número de trocas de bobinas em função do tipo ou da cor de fio acaba sendo anti-produtivo e aborrecido.


Bodkin - Nada mais é do que uma ponta seca adaptada a um cabo. Muito utilizado em tarefas que exigem precisão tais como na aplicação de gotículas de cola (principalmente em iscas diminutas), para desembaraçar fibras, apartar porções de material, atar nós, fazer furos para pernas, fixação de olhos e outras.

Apesar de não estarem na categoria essenciais (a meu ver), essas ferramentas ajudam muito nas diversas tarefas relacionadas ao atado de moscas:


Alicate Bico Chato - Um dos conceitos que considero mais importantes e que está frequentemente ligado à pesca com mosca é o Pesque & Solte, e um anzol sem farpa ajuda bastante tanto a liberar o peixe quanto a desenganchá-lo da roupa e de outras partes onde ele eventualmente ficará agarrado. Nem sempre se consegue comprar anzóis sem farpa, e uma maneira fácil de se contornar isso é amassando a farpa de um anzol comum. Para tanto o alicate de bico chato é a ferramenta ideal, minha dica aqui é como fazê-lo de forma correta:

Forma correta de amassar a farpa

Posicione o anzol de forma paralela ao alicate de maneira que as lâminas (tenazes) envolvam totalmente a farpa, aplique a pressão até que a farpa quebre ou fique amassada junto à ponta do anzol. 

Forma incorreta de amassar a farpa

Não posicione o alicate em um ângulo perpendicular ao anzol, a força aplicada de modo transversal fatalmente irá quebrar a ponta, principalmente em anzóis de haste fina.


Pinça - Muitos itens utilizados no atado de moscas são diminutos e de difícil manipulação, principalmente quando a tarefa envolve a separação ou escolha, a começar pelos anzóis indo até olhos, miçangas, etc. Para essas tarefas não há nada melhor do que uma boa pinça, ou até mais de uma. Particularmente uso três modelos, uma chata (com ponta larga), uma reta e uma curva (ambas de ponta fina).


Bobbin Threader - Caso seja necessário passar o fio de atado (thread) pelo tubo do bobbin, seja porque o a cor do fio foi trocada, seja porque o thread arrebentou (e isso não é tão incomum como se pensa), fazê-lo sem esta ferramenta pode ser tão penoso quanto colocar linha de costura em uma agulha. Trata-se de um cabo ou simplesmente uma esfera, onde está afixado um laço de arame fino o suficiente para ser transpassado pelo tubo do bobbin, por esse laço se passa o fio de atado que então é puxado através do tubo. Existem diversos modelos diferentes, apesar da função ser sempre a mesma.


Uma solução prática, que adotei e que funciona muito bem é usar um pedaço de linha de nylon torcido, fino o suficiente para passar pelo tubo do bobbin.

Bom, por enquanto é isso, ainda tem algumas ferramentas sobre as quais gostaria de falar e que considero que devem fazer parte do conjunto de qualquer atador, mesmo pra um iniciante (como eu): Hackle PlierWhip FinisherHair StackerDubbing TwisterHalf HitchHackle Gauge, Lente de AumentoEscova Velcro. Mas isso fica pra outra oportunidade.

Grande Abraço

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A Magia do Atado


Um dos ofícios mais fascinantes que está diretamente ligado à pesca com mosca é a confecção das iscas (fly tying). Esta recompensadora atividade é praticada inclusive por pessoas que não atam moscas para seu próprio uso, em outras palavras, não pescam. No caso dos pescadores, o retorno e a satisfação são ainda maiores, visto que conseguir a façanha de fisgar um peixe com uma isca elaborada por suas próprias mãos não tem preço.

Atando um Streamer com penas de Marabou

Para ser um bom atador, salvo raras exceções pois algumas pessoas já nascem com o dom, é preciso arte e técnica. Qualquer um pode adquirir as ferramentas e conhecimentos (proporcionalidade, equilíbrio, harmonia, controle motor, etc) necessários para dominar a técnica de atar, porém esses conhecimentos não serão suficientes para produzir resultados excelentes. Um bom atador deve possuir outras habilidades que podem resultar do desenvolvimento de algumas características inerentes a qualquer ser humano (criatividade, disciplina, capacidade de observação, visão espacial, análise estética, etc).

Os primeiros registros de anzóis recobertos por penas ou pelos datam do século 1 depois de Cristo. Esse ofício milenar pode ser descrito de forma simplificada como o processo de se fixar diferentes materiais a um anzol com um fio, na tentativa de produzir uma isca que se assemelhe a um inseto, um peixinho, um roedor, uma bolinha de ração, enfim qualquer coisa que sirva de alimento ao peixe. Essa isca é chamada de mosca, normalmente seu peso é desprezível demandando equipamento específico para que seja arremessada de onde está o pescador até seu objetivo final, o peixe.

Scud (pequeno crustáceo encontrado nos rios que serve de alimento aos peixes)
à esquerda o animal verdadeiro - à direita uma mosca atada por mim

Hoje em dia os mais variados materiais podem ser empregados na confecção de moscas tanto para a pesca em água doce, quanto para a capturas de espécies de água salgada. Basicamente utiliza-se dois tipos de materiais: os naturais (penas, pelos, madeira, fibras naturais, etc) e os sintéticos (EVA, borracha, plástico, metal, etc). Ambos podem ser combinados e ter suas características modificadas através da aplicação de tinta, verniz, cola, resina e outras substâncias. Existem diversas ferramentas que auxiliam o atador a cortar, combinar, alinhar e fixar esses materiais aos anzóis.

Bancada de Atado, Ferramentas e Materiais

A principal ferramenta de um atador é a morsa, trata-se de um artefato mecânico cujo objetivo é fixar o anzol através de duas partes (mordentes) que se assemelham a uma pinça. Uma vez preso o anzol, o atador pode ater-se a fixar os materiais até dar a forma desejada à mosca. Existem vários tipos de morsas, normalmente o iniciante opta por uma morsa simples (como eu fiz), mas em pouco tempo vê a necessidade de uma morsa que tenha a capacidade de girar a mosca sobre seu eixo facilitando de sobremaneira o trabalho. Sugiro que quando for escolher uma morsa, opte por uma giratória de boa marca. Novamente não é necessário investir uma fortuna e comprar um modelo top de linha, mas lembre-se daquela máxima: não compre porcaria.

A excelente Morsa G-Tech fabricada pelo mestre Odimir Manoel Gaspar

Existem diversos guias de moscas (alguns já consagrados de atadores famosos) que contém a lista de materiais utilizados e um roteiro exemplificando passo a passo de cada etapa de montagem. Esses guias são chamados de receitas ou padrões e descrevem com detalhes como a mosca deve parecer depois de pronta. Muitos padrões podem ser modificados de acordo com a preferência ou necessidade de cada atador. Não é incomum a adaptação de diversos materiais usados em nosso dia a dia, principalmente os sintéticos no atado de moscas, seja pela experimentação ou pela dificuldade em se conseguir certos materiais. Mas via de regra, qualquer material pode ser utilizado para se atar uma isca, desde penas de galinhas do quintal, até sacos plásticos de embalagens, a criatividade do atador é o limite.

Grande Abraço

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Equipamento de Fly


Quem já leu algum texto, viu um filme ou vídeo sobre o Fly e de alguma forma se encantou com a plástica dos arremessos ou com a riqueza de conhecimentos que envolve essa modalidade e quer se aventurar nesse mundo, certamente se defrontará com o primeiro grande desafio que o aprendiz de mosqueiro terá que enfrentar: a escolha do equipamento.

O principal equipamento no Fly é o conjunto Vara-Carretilha-Linha além obviamente das iscas, nesse caso, as moscas. No Fly não é o peso da isca ou um peso auxiliar que carrega a linha durante o arremesso, ao contrário, é a linha que carrega a isca (mosca). Esses conjuntos Vara-Carretilha-Linha variam em uma numeração que vai do #1 ao #15 (algumas pessoas consideram a existência de  conjuntos #0), e representam a capacidade do equipamento de carregar a isca, capacidade esta ligada muito mais ao volume da mosca (resistência ao ar) do que ao seu peso. Quanto maior é a numeração, maior é o tamanho da isca que se pode arremessar. Via de regra esse conjunto deverá estar harmonizado por um dos números, por exemplo: Vara #8 com Linha #8 e Carretilha compatível. Desta forma a tendência é obter um conjunto equilibrado e eficiente para arremesso de moscas médias. 

Fonte: http://www.southerntrout.com

Não existe uma relação direta do tamanho do peixe que se deseja pescar com o número do conjunto Vara-Carretilha-Linha, mas normalmente equipamentos de numeração mais baixa são utilizados para peixes menores e vice-versa. A não ser que o objetivo seja fisgar pequenos e valentes lambaris ou a pesca de enormes peixes de bico, um equipamento nº 5 pode atender com certa flexibilidade desde a pesca de truta arco-íris, black bass, tilápias, traíras e tucunarés (com exceção dos amazônicos), sendo portanto uma boa escolha para o iniciante.

Fonte: http://www.southerntrout.com

Existem diversos bons guias e livros que direcionarão com maestria o futuro pescador à escolha mais adequada a suas pretensões. Também há em muitos fóruns e blogs vasta informação para apoiá-lo na tomada da difícil decisão de qual equipamento adquirir. Não tenho pretensões e nem experiência para escrever sobre esse fascinante assunto, meu objetivo é apresentar, sob o ponto de vista de um recém iniciado, alguns aspectos relevantes relacionados à compra do equipamento do mosqueiro.

O primeiro aspecto é o custo benefício, tenho aplicado esse princípio também a outras situações, mas principalmente, em se tratando da compra de equipamento de Fly, ele se torna ainda mais evidente: não compre equipamento de 2ª linha! Existem muitos equipamentos bons e funcionais por um preço justo, não acredito que a opção por um equipamento caro, principalmente para um iniciante, tenha tanta influência na performance do aprendiz quanto apregoam certas pessoas. Varas com ações diferenciadas e equipamentos de ponta podem até ajudar a alcançar mais alguns metros nos arremessos ou impressionar os olhos dos parentes e amigos, mas de fato não será a falta deles que comprometerá a evolução do mosqueiro ou suas capturas.

Já conversei com muitos mosqueiros experientes e uma boa parcela deles não possui equipamentos caros, vários adoram seus conjuntos de vara e carretilha comprados a preços bastante módicos e alguns até manufaturam parte de seus equipamentos sem nenhum prejuízo à produtividade. Mas tome cuidado ao fazer a opção da compra, procure marcas tradicionais, de renome e não se esqueça do princípio básico: não compre porcaria.

Fonte: http://www.ehow.com

O segundo aspecto que acho importante ser levado em consideração na compra do equipamento de pesca com mosca é: o somatório de itens que irão compor o equipamento do mosqueiro. Comprei meu primeiro conjunto de vara e carretilha durante uma viajem a Orlando, nesta ocasião optei por um combo de boa marca que era vendido com linha (recomendado por pescadores experientes), como estava pensando em somente experimentar, não comprei mais nada além de um kit básico para atar. Depois de chegar ao hotel me lembrei do livro que estava lendo sobre o Fly e fiquei pensando onde iria usar o conjunto. Voltei à loja mais 2 vezes para comprar um wader, botas, colete e mais algumas ferramentas para atar. Depois de ter pescado algumas vezes comprei net, mais material para atar e uma série de outros itens que me fizeram falta. Nesse sentido minha dica é: compre tudo que acha que irá precisar sem titubear. O material para pesca com mosca mesmo usado tem mercado garantido, portanto caso você não se adapte ao Fly ou queira comprar um equipamento melhor não se preocupe, a venda não será difícil.

Grande Abraço