quinta-feira, 14 de maio de 2015

Metrologia do Atado

Proporcionalidade, razão de afundamento, perfil hidrodinâmico, são apenas alguns aspectos que precisam ser observados durante a montagem de moscas, eles estão muito mais ligados às características funcionais da isca e pouco contribuem para sua estética e beleza, apesar de serem parte indissociável da nobre "Arte do Atado".

Essas propriedades extremamente cartesianas, ligadas à física (uma ciência exata), a princípio podem não ser claramente visíveis quando olhamos pela primeira vez pra uma mosca que nos "pesca" pelo colorido, formato ou semelhança com o ser vivo que tenta imitar. Porém, são atributos igualmente importantes, uma vez que podem estabelecer de forma determinante o modo como a isca nada, afunda, sua silhoueta, enfim a "vida" que tentamos imprimir à mosca. 


Catgut nymph

Obviamente, quando vamos a um restaurante e pedimos uma iguaria gastronômica, não há como deixar de lado a frase do célebre poeta: "A beleza é fundamental". O primeiro contato que temos é visual, e um belo prato, colorido, muito bem apresentado, nos seduz logo de cara. Mas se essa "pintura comestível", linda de se ver é insossa, sem textura, todo o trabalho para a criação da "obra prima" se esvai em segundos. Sem querer menosprezar o poeta, ainda prefiro a máxima: "mosca feia, pega peixe". 

A metrologia do atado aqui proposta, na verdade trata-se da adequação das medidas dos materiais que mais comumente utilizamos na montagem das moscas. Escolher o fio de chumbo de bitola correta pra um determinado tamanho de anzol, é relativamente fácil na grande maioria das vezes, tanto que existem tabelas com essas relações facilmente encontradas nos livros de atado de moscas, blogs, fóruns, etc. É claro que se quizermos "sobrecarregar" uma ninfa com peso extra, para que esta afunde mais rapidamente em uma situação específica, essas sugestões tabeladas não valem, mas via de regra, os valores apresentados são os mais praticados. Assim, reuni algumas das tabelas que mais utilizo em meus atados e as apresento aqui como uma referência prática de consulta.


A tabela que mais utilizo é sem dúvidas a de fio de atado (thread). As unidades mais usadas pra classificar os fios de atado são Aught, na qual os zeros representam as espessuras dos fios (quanto mais zeros, mais fino será o fio), assim um fio 00000 ou 6/0 é mais fino que um fio 000 ou 3/0; e a Denier um padrão baseado no peso em gramas de 9.000 metros de fio, neste sistema, números maiores indicam fios mais grossos, assim um fio 210 denier é mais grosso que um fio 140 denier.


Outra tabela que consulto muito é a de bead heads. Sempre fico na dúvida sobre que tamanho é mais adequado para o anzol que pretendo usar. Mais uma vez, devo lembrar que essa é apenas uma referência e que em situações nas quais se deseja imprimir um comportamento específico à mosca, esses valores podem ser alterados.


Da mesma forma, a tabela de fio de chumbo se aplica quando deseja-se adequar a espessura do fio à espessura do arame do anzol, visando um corpo de mosca mais harmônico. Dado que o lastro usado na mosca pode ser modificado aplicando-se mais ou menos voltas deste fio à haste do anzol, as relações de correspondência dessa tabela, objetivam mais propriamente a proporção das bitolas fio x haste.


Ainda referente ao lastro, a tabela de olhos de halteres de chumbo também serve apenas de referência para o tamanho do anzol. Dependendo da quantidade e do tipo de material que será atado à mosca, pesos maiores ou menores podem ser necessários para que a isca nade de forma equilibrada.


Outro elemento que está muito presente em uma grande quantidade de receitas de atado é o fio de cobre. Usado para revestir a haste, para reforçar a fixação de um material ou mesmo pra segmentar abdômens, essa tabela é uma mão na roda na hora de escolher qual fio usar em função do tamanho do anzol.


Usada em menor escala, mas igualmente necessária é a tabela de cone heads. Mais uma vez, aqui aplica-se apenas uma relação de tamanho do cone versus espessura do arame da haste, tanto para seu travamento no olho do anzol, quanto para o efeito esperado no atado.


Essa tabela tem a mesma função da anterior, apenas adequar o tamanho dos olhos de plástico/monofilamento ao tamanho do anzol.


O chenille é mais um elemento que faz parte de muitas receitas de atado. Na grande maioria das vezes, apenas revestindo a haste do anzol pra formar o corpo da mosca. As relações apresentadas nesta tabela tomam como premissa anzóis com abertura parão, focando pricipalmente a proporcionalidade entre espessura e comprimento.


Finalmente, ainda visando garantir a proporcionalidade dos corpos das moscas, a tabela de vinyl rib, elemento muito utilizado tanto pra ninfas, quanto pra streamers.

Espero que essas tabelas sirvam de referência e sugestão para muitos mosqueiros e que ajudem na montagem de moscas equilibradas, proporcionais e principalmente funcionais.

Grande Abraço

2 comentários:

  1. Tópico c o DNA inconfundível do autor! Vlw, André!

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    1. Obrigado pela gentileza e pelo incentivo de sempre Ilza.

      O que seria de nós aprendizes não fosse essas informações e dicas dos mestres. Temos obrigação de compartilhar.

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