domingo, 23 de novembro de 2014

Crazy Charlie

Na contramão das sofisticadas moscas para salmão que nos enchem os olhos pela beleza da combinação de materiais e cores, e que desafiam as habilidades dos atadores devido à quantidade de etapas e disciplina na obtenção da proporcionalidade necessárias à sua montagem, está uma mosca notavelmente eficiente que exercita de forma exemplar o famoso princípio KISS (Keep it simple stupid), considerado desde os anos 70 como uma diretriz em diversos segmentos da indústria bem como empregado até hoje por profissionais de TI. Montada com nada mais do que um anzol, olhos de chumbo e algumas penas de galinha, essa mosca é a fiel retratação de seu criador, um homem simples, rústico, mas que carrega a maravilhosa sabedoria do pescador primordial.

Charlie Smith (mais conhecido como Crazy Charlie) era ainda um chef de cozinha quando recebeu a difícil tarefa de assegurar que dois dos ilustres hóspedes do resort de pesca onde trabalhava, os primeiros ministros das Bahamas e do Canadá, tivessem uma boa pescaria de bonefish. Durante a noite que antecedeu a pescaria, Charlie passou um bom tempo escolhendo que iscas seriam usadas e fazendo experimentações para novas moscas, até que sentiu ter descoberto um padrão que seria realmente eficiente, nascia assim a Nasty Charlie, mais tarde rebatizada com o nome de seu criador, considerado o mais conhecido padrão para bonefish.

Versão "apimentada", Hot Orange Crazy Charlie

Por se tratar de um padrão extremamente simples, é natural que surjam variações, modificando e acrescentando um ou outro detalhe com o objetivo de customizar a versão original para outras ocasiões nas quais ela também tem se mostrado bastante produtiva. Seja adequando-se seu tamanho para espécies menores, seja substituindo-se os materiais originais por outros mais chamativos para aumentar sua atratividade, suas variantes por mais diversas que sejam, sempre guardam a mesma essência que a consagrou quando criada por Charlie Smith, um corpo delgado na haste do anzol, "olhos" pesados para inverter a posição do anzol durante seu "nado" e um tufo de material com a dupla função de "camuflar" a ponta do anzol e conceder-lhe movimento (vida).

Tentando ser o mais fiel possível não ao padrão original, mas a uma variante muito popular, segue abaixo a lista de materiais e a seqüência de passos necessárias à sua montagem. Vamos à morsa?

Material Básico:
  • Anzol Mustad 34007 #6
  • Fio de atado 6/0 - Creme
  • Chenille - Marrom Claro
  • Olhos de Corrente (Bead Chain) pequeno
  • Slink Fibre - Cor Camarão 



Material Opcional:
  • Bucktail
  • Twisted Angel Hair



Passo a Passo:

1º Coloque um anzol na morsa, com a farpa amassada, prenda o fio de atado e faça uma base iniciando a partir do olho do anzol, até aproximadamente 1/4 do comprimento da haste.


2º Nesse ponto, fixe os olhos de corrente, tomando cuidado para que estejam perpendiculares à haste. Uma amarração em formato de oito ao redor dos olhos e uma gota de cola garantem uma boa fixação.


Detalhe da amarração 

3º Continue com a base de fio de atado até a curva do anzol, retornando com o thread para o ponto logo atrás dos olhos de corrente.


4º Prenda o chenille fixando por toda a haste até à curva do anzol e retorne com o fio de atado para a frente dos bead chain eyes.


5º Enrole o chenille na haste fazendo voltas juntas uma na frente da outra.


6º Quando chegar próximo aos olhos, passe por cima e segure o chenille esticado para frente.


7º Faça a fixação do chenille com umas 4 voltas de thread e corte o excesso.


8º Gire a mosca de cabeça para baixo para facilitar o trabalho das próximas etapas.



9º Prenda um tufo de Slink Fibre bem próximo aos olhos e siga dando voltas com o fio de atado até o olho do anzol.


10º Dobre as fibras para trás e retorne com o fio de atado dando voltas fixando-as ao mesmo tempo em que se molda um pequeno cone.


11º Dê o nó de finalização de sua preferência e aplique uma gota de cola.



12º Apare o tamanho das fibras de tal forma que fiquem com aproximadamente 1,5 vezes o tamanho do anzol.



Variações:

Pode-se substituir as fibras da asa e o chenille do corpo da mosca por diversos tipos de materiais, aqui a fibra foi substituída por bucktail:



Pode-se também acrescentar brilho, como Angel Hair ou Krystal Flash e até mesmo atá-las somente com material brilhoso (o que lhes concederá maior resistência) como nessas versões da Gotcha (uma prima da Crazy Charlie com cauda):



Como trabalhar a isca:

Deve-se arremessar a mosca e dependendo da profundidade que se queira alcançar aguardar para que ela afunde, depois basta recolher com pequenos puxões fazendo-a avançar como um camarão que nada fugindo de um predador. A cada puxão, deve-se aguardar 1 ou 2 segundos para que ela afunde novamente como se estivesse morrendo. 

Lembre de Não Esquecer:
  • Apesar dessa versão não levar lastro que faça a mosca afundar, o chenille encharca e ajuda a levar a mosca mais pro fundo. Em casos de necessidade de atingir profundidades maiores, pode-se adicionar algumas voltas de fio de chumbo por baixo do chenille.
  • Em locais onde não haja estruturas, rios e lagos com poucas pedras e praias, pode-se deixá-la tocar o fundo a cada vez que desce.
Grande Abraço

4 comentários:

  1. Essa é daquelas coringas, simples e eficiente. Ótimo artigo.

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    1. Obrigado Blatt, não é à toa que depois de anos, ainda hoje em dia são tão usadas.

      Grande Abraço ;)

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  2. Quando as tilápias estão se alimentado de crustáceos, essa iosca faz a festa.

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    1. Um padrão que pode ser usado na pesca de muitas espécies, bastando fazer pequenas adaptações. Grande Abraço.

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