Acho que não existe representante mais autêntico da pesca no Brasil que esse pequeno porém muito valente e voraz peixinho, o lambari (ou piaba ou piava, como também é conhecido). Por toda parte, pode-se facilmente encontrar um bom número de pescadores, esportivos ou não que já travaram divertidas batalhas com esses diminutos guerreiros. É bastante comum ver em pequenos rios, represas, açudes e até em modestos lagos, avôs e netos, pais e filhos, amigos, enfim diferentes grupos de pescadores munidos com o mais tradicional dos equipamentos: vara de bambu e uma lata de minhocas compartilhando agradáveis momentos sacando da água essas pequenas jóias prateadas.
E as qualidades desses pequenos notáveis se estendem também para outras modalidades, inclusive a que mais nos interessa, a pesca com mosca. Fisgar lambaris com equipamento de Fly não só é possível como também pode ser surpreendentemente prazeroso. O lambari é um devorador por natureza, é extremamente veloz e ataca vigorosamente qualquer coisa que se pareça com alimento, tanto na superfície quanto em águas mais profundas, o que o torna perfeito para a pesca com moscas secas, molhadas e ninfas.
Eles estão presentes tanto nos poços quanto nas partes mais rasas
Dono de uma dentição privilegiada, é capaz de arrancar pedaços do que estiver lhe servindo de alimento (minhocas, massa, etc) e acabar rapidamente com as iscas que lhe são apresentadas com poucas mordidas. O mosqueiro que se aventurar a enfrentar esses pequenos guerreiros precisa estar munido de um boa quantidade de moscas, pois estas se desfarão em pouco tempo. Na hora de atar iscas para lambaris, é recomendável adicionar reforço para torná-las mais resistentes a seus afiados dentes.
Em função da espécie de lambari (existe um grande número delas), o tamanho da boca pode variar a tal ponto que exija além da tradicional escolha da numeração dos anzóis, uma adequação da mosca quanto a seu formato. A comparação abaixo, muito bem observada pelo mestre Gregório (exímio conhecedor da pesca de lambari com fly), mostra claramente que o mesmo anzol (inclusive a mesma numeração) pode produzir moscas com áreas (em uma visão 2D) bem diferentes, e que a escolha do formato mais apropriado pode favorecer de modo significativo o aumento do número de fisgadas.
Moscas atadas no mesmo anzol possuem áreas diferentes
Nas oportunidades que tive de enfrentar os pequenos valentes, testei um bom número de diferentes iscas, baseado nas informações que havia colhido, atei somente moscas sem cauda (com excessão de uma variante da Blood Worm cuja cauda de Marabou é bastante flexível), todas produziram boas fisgadas. Porém, não sei se por conta das condições locais onde fiz as pescarias, destaco duas moscas (uma seca e uma ninfa) que em minha opinião se mostraram mais eficientes.
A primeira (minha escolha para pesca na superfície), se baseia no padrão sugerido pelo mestre Gregório, na verdade trata-se de uma variante da famosa F Fly. Nessa montagem, usei um anzol Tiemco 100 #20 (pois nos locais onde estive os lambaris são bem pequenos), nele ao invés do dubbing foi enrolado uma pena de pavão albino para fazer o corpo da mosca, para a asa usei fibras de pena de CDC viradas para trás (como em uma asa de caddis), finalizei a cabeça da mosca usando somente o fio de atado.
Mosca seca baseada no padrão do mestre Gregório e na F Fly
A segunda que se mostrou mais produtiva, sempre que queria pescar abaixo da superfície, foi uma variação da Blood Worm. Nesta montagem, usei um anzol Tiemco 200R #20, a cauda foi feita com fibras de Marabou, para o corpo da mosca usei somente fio de atado sobreposto em camadas até chegar a um volume adequado, pra finalizar um generoso colar feito com pena de pavão albino.
Ninfa baseada no padrão Blood Worm
Os outros padrões que experimentei foram: Zebra Midge, Brassie, Midge Emerger (usando micro foam para fazer o corpo), Tunkwanamid (substituindo o original Ostrich Herl do hackle por Peacock Herl) e IOBO Humpy. Todos esses padrões sem exceção produziram bons resultados.
Algumas outras opções para os Pequenos Valentes
A pesca que fiz foi vadeando em rios em sopés de serras, com fundo de seixos e areia, relativamente rasos (até 1 metro de profundidade) e razoavelmente largos, algo em torno de 10 metros. Nesses locais, o lambari habita desde as áreas mais profundas (poços e canais) até às partes mais rasas com menos de um palmo de profundidade em determinados pontos. A maioria das ações foi produzida arremessando-se nas margens, onde é mais raso, e em trechos nos quais a correnteza não é muito forte, parece que eles preferem as águas mais tranquilas. Os ataques se deram segundos após a isca cair na água, devido à sua visão aguçada e velocidade, basta a mosca (mesmo as ninfas) tocar a superfície para que se inicie a corrida pela primeira bocada.
Moscas lastreadas (com fio de cobre ou bead head) em partes mais fundas resultaram em capturas de indivíduos maiores, nas partes mais rasas os menores e mais ligeiros não dão chance para os de maior porte ganhando a corrida de disparada, ainda mais quando se usa mosca seca. A sutileza da fisgada normalmente acontece em águas mais calmas, à medida em que a correnteza fica mais severa, as investidas exigem mais esforço dos peixes produzindo ataques mais vigorosos.
Os lambaris atacam vigorosamente as ninfas
Capturá-los com mosca seca é ainda mais recompensador, pois identifica-se o momento da fisgada com mais precisão e as explosões produzidas pelos ataques na superfície da água adicionam beleza plástica a cada ação.
E também as secas
É importante lembrar que:
- Em todas as iscas os anzóis estavam com as farpas amassadas, de forma alguma isso prejudicou as capturas e de quebra facilitou muito a liberação dos peixes (foram todos liberados).
- Os ataques continuaram (apesar da eficiência das fisgadas não ter sido igual), mesmo usando iscas em anzóis maiores (#16), os pequenos são tão gulosos que por vezes é difícil acreditar que conseguem abocanhar moscas tão grandes.
- É sempre bom ter à mão uma pequena tesoura, caso o mosqueiro faça a opção por iscas com cauda, postes e asas e haja a necessidade de desbastá-los de modo a facilitar as fisgadas.
É isso mesmo , grande peixe esse cara, outra boa isca são as black ant , muito bom inclusive essa pesca para se preparar para as trutas...
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