sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A Escolha da Mosca

Este talvez seja um dos maiores desafios de um mosqueiro: acertar na escolha da isca. Essa duríssima tarefa é de tal importância que pode determinar o sucesso das suas capturas ou o fracasso de não conseguir sequer uma fisgada. O que a princípio parece ser extremamente simples, pode em certos casos se transformar em um imbróglio mais difícil de resolver do que um leader embaraçado. 

A árdua tarefa de escolher a mosca
Fonte: http://www.caseysmartt.com

É muito comum que essa pergunta se manifeste em um papo entre pescadores ou em um processo de coleta de informações sobre determinado local ou uma espécie de peixe: "Qual é a melhor isca para se usar aqui?" A melhor resposta para essa questão pode parecer um tanto direta e até mesmo grosseira, porém é a mais pura verdade: "O que o peixe está comendo!"

É fato que por mais que uma determinada espécie seja conhecida pela predileção a determinado alimento, existem condições (de várias naturezas) que podem alterar seus hábitos alimentares e transformar aquela mosca clássica  em um tremendo fiasco. A isca mais utilizada na captura do robalo é o camarão, são quase sinônimos, logo para uma pescaria de robalo basta encher a flybox com Gênesis, Crystal Shrimps, Honey Shrimps e outras imitações de camarão que as fisgadas estão garantidas, não é? Nem sempre! Em função das características locais (clima, circunstância da água, disponibilidade de alimento e outros milhões de fatores), o camarão pode simplesmente não existir ali, e caso este seja o lugar escolhido para aquela tão esperada pescaria de robalos, o resultado poderá ser bastante frustrante. Neste local caso os robalos estejam habituados a outro tipo de alimento (pequenos peixes por exemplo) as moscas mais efetivas serão streamers.

Vespas sob a ponte pênsil de um lago

A forma mais simples de se ter um ponto de partida para a escolha da mosca é a observação do local de pesca. Examinar a superfície da água identificando quais insetos estão presentes servindo de alimento aos peixes é um bom indicativo de quais padrões de moscas serão mais eficientes. Analise o espaço ao redor: vegetação, margens e até as teias de aranhas podem revelar que tipos de insetos vivem na região direcionando a escolha da isca.

Exoesqueleto indicando a presença de libélulas no local

Caso haja a confirmação da existência de ninfas, adultos ou mesmo de exoesqueletos resultantes de mudas, o uso de um padrão que se assemelhe a essa espécie tem grandes chances de produzir um bom resultado. 

Libélula adulta atada segundo o padrão criado pela GOFLY

Uma outra maneira de descobrir que alimento há em determinado local é através da coleta. De posse de uma pequena rede colhe-se amostras dos seres que habitam o rio, lago ou determinada região do mar, revelando qual o alimento mais abundante e que provavelmente resultará em mais capturas.

Fonte: Fly Tying - an Enjoyable Hobby

Além de um padrão de iscas representativo dos alimentos locais, há outros aspectos a se observar quando da escolha de uma mosca:

Cores:

Muitos peixes não tem visão muito desenvolvida, os bagres que vivem em águas turvas por exemplo tem esse como seu pior sentido. Já a truta é reconhecidamente um peixe de visão privilegiada podendo perceber detalhes que a maioria das espécies não consegue. Deve-se também ter em mente que as cores não são enxergadas pelos peixes da mesma forma que pelos humanos, nossos olhos são diferentes e mesmo entre as espécies existem variações. Porém a prática demonstra que para determinadas situações certas cores produzem melhores resultados, faça as experimentações e principalmente as anotações de quais cores funcionam melhor em quais condições.

Exemplos de cores para certas condições

Movimento:

Este também é um aspecto muito importante na tomada de decisão de qual mosca utilizar. Em determinadas situações, a vibração causada pelo material ou pelo formato da mosca se torna seu maior atrativo. Observa-se ainda que determinadas espécies mudam de hábitos em função das condições climáticas ou época do ano, e uma isca que era muito atrativa devido ao seu movimento no verão, pode se tornar totalmente ineficiente no inverno, exigindo do mosqueiro a observação constante do comportamento dos peixes e a adequação da isca às novas circunstâncias.

Tamanho:

Pode parecer óbvio que o tamanho da mosca tem que estar compatível com a dimensão do peixe, porém novamente essa não é uma regra. A adequação do tamanho do anzol e da isca na grande maioria das vezes deve mesmo respeitar uma certa proporcionalidade, mas em casos especiais como o da truta aquela velha máxima "isca grande para peixe grande" não vale. Na maioria das vezes a truta se alimenta de pequenos insetos e de suas ninfas tornando a relação dimensão da mosca x tamanho do peixe totalmente desproporcional.


Fonte: http://www.lemouching.com

Textura:

Algumas espécies de peixes são capazes de detectar a textura do alimento com a boca ou com os barbilhões, inspecionando sua rigidez ou maciez. Uma mosca com textura similar aos alimentos disponíveis aumentam as chances de sucesso.

Silhueta:

O formato da mosca, principalmente nas que flutuam, talvez seja ainda mais importante que suas cores. A impressão que um inseto descreve na superfície da água é facilmente reconhecida pelos peixes que dele se alimentam e o possibilitam diferenciar uma simples folha de uma formiga. Algumas moscas se assemelham muito aos modelos naturais tornando bastante difícil para o peixe distinguir qual é o verdadeiro e qual é a imitação.

Scud à esquerda o verdadeiro - à direita a artificial

Por fim tenha em mente ainda que existem outros fatores que podem influenciar a escolha da mosca como por exemplo: sazonalidade da oferta de alimentos (eventos de revoadas de tanajuras e cupins), períodos de reprodução/cuidados com a cria, condições da água e muitos outros. O importante é o mosqueiro estar sempre atento, investir tempo na observação e pesquisa do ambiente onde pretende praticar a pesca, anotar as variações de comportamento dos peixes e do ambiente que os cerca de forma a garantir uma diversidade que padrões que cubram eventuais situações fora do esperado. Nunca é demais lembrar que a intuição do pescador também tem grande peso na escolha da mosca, a confiança na seleção da isca se traduz em disciplina, aplicação e persistência, potencializando de sobremaneira os resultados.

Grande Abraço

4 comentários:

  1. Muito interessante André, bela postagem!
    Texto bem desenvolvido e boa adequação das fotos!
    Ainda não conhecia o site, parabéns pelo trabalho!
    Obrigado pela lembrança de nossa mosca GO FLY.
    Att,
    Leandro vitorino

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Leandro pela generosidade das palavras, são apenas anotações de um aprendiz, que achei por bem compartilhar.

      Nós mosqueiros é que temos que agradecer pelo trabalho exemplar e único de preservação de nossos biomas e divulgação de informação da GO FLY.

      Grande Abraço

      Excluir
  2. Gostei muito do texto amigão!!!!!!!
    É muito difícil e complicado afirmar certos comportamentos ou estipular regras existindo todas estas variantes!!!!
    Att,
    Bata

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Bata,

      É verdade, isso fica ainda mais evidente naqueles dias em que fazemos tudo certinho, apresentamos todos os truques e cartas da manga, mas o peixe se recusa a morder a isca.

      Acredito que ainda nos reste muito a descobrir sobre essas maravilhosas criaturas, em especial sobre algumas espécies e quem sabe assim seremos mais efetivos tanto nas capturas quanto na sua preservação.

      Grande Abraço

      Excluir