quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Entomologia Aplicada

Um dos aspectos mais cativantes do fly fishing é a possibilidade de expansão do conhecimento, tanto do novo, quanto do aprofundamento de diversos assuntos relacionados direta ou indiretamente à pesca com mosca. Uma dessas matérias em particular, me desperta o interesse desde criança, e nunca poderia imaginar que minha paixão pela pesca, legitimamente retratada pelo fly, pudesse resgatar essa outra antiga paixão. Agora como aprendiz de mosqueiro tive a recompensadora oportunidade de retomar a obtenção de mais conhecimento nesse campo tão fascinante: a entomologia (estudo dos insetos).

A presença da Donzelinha (Damselfly) adulta, indica provável ocorrência de ninfas

Esse estudo, não tem como objetivo o conhecimento científico e nem o aprofundamento acadêmico que um estudante de biologia necessita, mas é de grande importância para o mosqueiro (atador e/ou pescador) que deseja ser mais eficiente tanto na confecção de suas criações, quanto em suas capturas. Identificar que tipo de inseto está ocorrendo em um determinado local, em um momento específico e escolher uma mosca que o imite, pode deixar bem evidente a diferença entre um pescador que está fazendo capturas e outro que não está. Ter o conhecimento que as ninfas não nadam rio acima pode explicar a "sorte" de um mosqueiro que está tendo boas ações de peixes e capturas, derivando a mesma mosca que um outro pescador está puxando com pequenos recolhimentos rio acima, sem que nenhum peixe demonstre interesse.


Identificar que tipo de alimentação existe no local é fundamental para decidir que mosca usar

Sob o aspecto do atado, consultar livros com fotos ou desenhos de insetos, bem como fazer um esboço antes de começar a atar, ajuda a observar alguns pormenores importantes, ainda mais se o foco for produzir uma imitação mais realista. Em uma primeira análise, pode parecer um exagero atar uma mosca realista, "perdendo tempo" com detalhes que o peixe não conseguiria perceber, mas dependendo da espécie e do local onde se pretende pescar, uma minúcia aparentemente desprezível pode tornar a mosca desinteressante aos olhos do peixe. Se estivermos pescando com condições de água não muito claras, espécies que não possuem visão muito desenvolvida, uma Woolly Bugger pode perfeitamente se passar por uma ninfa de donzelinha (damselfly). Ao passo que se estivermos em águas transparentes, tentando capturar uma espécie de peixe com grandes olhos adaptados para caçar, a falta de pernas ou diferenças na proporcionalidade da mosca em comparação ao inseto real, pode comprometer o sucesso da pescaria.

Elaborar um esboço do inseto, figuras e fotos ajudam bastante nos detalhes antes de atar 

Outro cuidado que devemos levar em consideração quando atamos (ou escolhemos uma mosca da caixa) é imaginar a mosca na água sob a ótica do peixe. Quando observamos essa ninfa capturada em um rio fora da água, podemos notar que a curvatura do abdômen está voltada para baixo (figura da esquerda), mas quando a vemos embaixo da água (figura da direita), percebemos que sua postura natural é com o abdômen curvado para cima. Essa diferença, influencia na escolha do material, nesse caso do anzol, e poderá eventualmente impactar em suas chances de capturar o peixe.

 
A mesma ninfa em duas situações diferentes: à esquerda no seco e à direita dentro da água 

A mosca que apresento a seguir não é propriamente uma criação, é na verdade a compilação de várias receitas e alguns experimentos com materiais visando principalmente o aspecto funcional (textura, movimento, razão de afundamento, etc) e claro, o visual (cor, tamanho, formato, etc), características que considero essenciais em uma isca. A intenção foi representar de forma um pouco mais realista, a ninfa de donzelinha mostrada acima, para tanto a montagem se deu assim:

Base - Anzol TMC 200R #14, fio de atado #8 marrom e 10 voltas de fio de chumbo 0,20.
Olhos - De corrente.
Cauda - Pêlo de Coelho.
Abdomên - Fibras de pena de Ganso.
Tórax - Dubbing  de Pêlo de Coelho.
Pernas - Fibras de Pena de Faisão.
Cabeça - Dubbing sintético amarelo palha.


Visão lateral e superior da ninfa de donzelinha (damselfly)

O resultado é uma mosca visualmente mais parecida com a ninfa do inseto real do que uma Woolly Bugger (que a representaria muito bem em águas mais rápidas), mas que ainda se abstrai de alguns detalhes. A idéia é que ao ser apresentada ao peixe em águas mais tranquilas (poços de rios, lagos e trechos sem correnteza) onde este tem mais chances de distinguir um inseto real de uma imitação, as diferenças não sejam tão perceptíveis. A decisão de montar uma mosca impressionista (mais abstrata) ou uma mosca mais realista (mais fiel ao inseto) é meramente pessoal, particularmente prefiro optar pela segunda opção, pois entendo que dessa forma estarei aumentando as chances de capturas tanto em águas mais tranquilas quanto em águas rápidas.

O importante é sempre procurar conhecer o ambiente onde irá pescar, observar tanto o local quanto seu entorno, como os insetos se comportam na água e nas proximidades, investigar como se movimentam, seu formato, cores, que espécies são mais atrativas naquele local, enfim estudar as formas de vida locais e usar esse conhecimento para aprimorar a confecção das moscas e tornar sua pescaria mais efetiva.

Grande Abraço

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Criteriosidade, dedicação, dom e veloz avanço !
    Incrível o Post; bem como a velocidade crescente do nível de publicações!
    Opinião de uma "naba"; aqui certamente endossada por qqer expert.
    Grata por dividir ,de modo ordenado, tanto conhecimento conosco, Mestre André!
    Gde abç.

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  3. Muito Obrigado Ilza,

    Mas tudo que está aqui apenas representa o empenho de um dedicado aprendiz, nada mais. Mestres são aqueles que bem conhecemos, que nos inspiram, ensinam e incentivam a cada vez mais nos aprofundarmos na nobre arte da pesca com mosca.

    Grande Abraço

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